SED TANTUM DIC VERBUM...

...ET SANABITUR ANIMA MEA.

sábado, 30 de outubro de 2010

Quando as crianças se tornaram PESSOAS

Diário,


Odd Magne Bakke é dinamarquês, doutor em Teologia, especialista em História da Teologia e História da missão cristã.
Eu não o conhecia - até comprar, através daquele bagulhinho Kindle, da Amazon, o livro chamado "When Children Became People: The Birth Of Childhood in Early Christianity", de sua autoria. 


O livro é muito bom - e, mesmo sem ter ainda terminado de lê-lo  (por causa da minha participação voluntária na atual  bagaça eleitoral, como você sabe, e que eu deixei que virasse a minha vida de pernas pro ar), já me provocou muita reflexão.


A humanidade contemporânea realmente perdeu a noção do SIGNIFICADO do Cristianismo como  paradigma. As pessoas ignoram o que foi o mundo antes dele - e por isso ignoram o que será o mundo sem ele... O mais sublime e elevado modelo que a humanidade conheceu está sendo abandonado - e a perda fará sangrar o homem em TODOS os âmbitos da condição humana. Em cada uma das dimensões que verdadeiramente constituem essa condição, desde as mais extraordinariamente elevadas até as mais simples, que a maioria das pessoas "take for granted" - a FALTA do paradigma cristão anulará conceitos que hoje esta esmagadora maioria não sabe mais de onde vieram:  e portanto não os CREDITA ao Cristianismo, mesmo tendo sido ELE que os trouxe para a humanidade! 


O tamanho deste paradigma, sua importância, a monumental civilização que nele se fundamentou - tudo está sendo PERDIDO: e perdido sem que as pessoas nem sequer saibam, compreendam, o que é que está contido neste TUDO, que o Cristianismo ergueu como a maior defesa, o melhor caminho, a mais precioso MAPA que a humanidade jamais conheceu. Defesa, caminho, mapa - rasgados, jogados fora, vistos como "inúteis", como "dispensáveis"! 


Os imbecis do anti-Cristianismo - como o intolerável Genésio Boff e o insuportável "Frei Betto" - OUSAM falar em "humanismo"- como se a NEGAÇÃO do paradigma cristão pudesse se referir, pudesse ter como objetivo o homem, em sua plena condição! O "humanismo" deles é falso, opaco, a VILÍSSIMA moeda que compra o retrocesso aos tempos em que o destino humano não era conduzido sob o entendimento vertical da nossa integração com o Transcendente Criador. E nos quais, entre outras MILHARES de coisas mal-compreendidas, ou não-compreendidas de modo algum, as crianças nem sequer eram pessoas! TORPES inimigos, estúpidos e cínicos!


Fica aqui a minha gratidão ao teólogo dinamarquês pelo seu livro, que eu SONHO em que todos leiam - e cujo lindo título já expressa uma clara VERDADE: o conceito de  infância NASCEU COM O CRISTIANISMO. 
E este conceito estará perdido quando o Cristianismo terminar como paradigma.


Há mais coisas, diário: mas nem tudo se faz num dia só, e a porcaria da campanha me deixou um tanto "desconcentrada" e necessitada de descanso, confesso! Quero o sossego de fazer desenhos para os amigos, e recopiar receitas das minhas bisavós para inventar um livrinho que me consola imaginar que  possa ser útil para as minhas bisnetas - num hipotético futuro no qual, francamente, não gosto muito nem de PENSAR! São atividades bastante BALSÂMICAS, se você me entende... 


Sua um tanto desolada, mas sempre firme,


Rainha

Ah, o Brasil!...

Diário,


Perdemos o Brasil, eu penso. Andava muito aborrecida com isto, mas de repente me dei conta de que ele já estava perdido há muito tempo! Foi lá trás, em algum longínquo e ensolarado "dia qualquer", que aquilo que era até então algo quantitativo tornou-se qualitativo - e o país chamado Brasil passou a ser mais um domínio do orango predador neste mundo de meu Deus. 


A interlocução, a conversa,  tornou-se difícil: tão difícil que, nos últimos tempos, ela passou a ser - pelo menos para mim - algo a ser deliberadamente BUSCADO, procurado de propósito. Não é mais possível, ou é terrivelmente difícil, FALAR com as pessoas e encontrar quem responda. Entre o coração humano e o duro  caroço que passa pela mesma coisa entre os orangos, ergue-se a parede intransponível da imoralidade.  E entre esses dois paradigmas vaga, desnorteada e babando, a multidão dos imbecilizados, cuja imbecilidade vai se tornando paulatinamente CRÔNICA, como uma espécie de reumatismo  moral que tolhe todos os movimentos do que um dia foi um intelecto.


Não há muito, em termos práticos, POR QUE lutar, nem O QUE defender: o predador avança em cima de uma multidão que JÁ É butim, independentemente deste avanço! 


Ando lendo, para me consolar, os escritos dos que viveram em outros tempos: e você não imagina como foi bom encontrar Hildegarde de Bingen, santa católica,  que gostava de plantar ervas, também de cozinhar, e foi  filósofa extraordinária e  extraordinária visionária - além de desenhar estupendamente, e ilustrar suas visões simbológicas com excepcional maestria! Passei a ser grande admiradora da Sibila do Reno, que entre outras coisas inventou uma linguagem à qual chamou de Lingua Ignota  - com seu próprio alfabeto, é claro:  as Litterae Ignotae - e recebeu a ordem divina de reproduzir suas visões e escrever sobre elas, coisa que lindamente fez! Foi ainda enfermeira, compositora (belíssima música!) e uma pessoa determinada, empenhada e corajosa: a quem ninguém, inclusive as autoridades eclesiásticas do seu tempo, jamais se opôs. E tudo isto sem jamais deixar de ser humana, alegre, informal e SIMPLES - sem um pingo de nhenhenhé!
E, imagine: Hildegarde gostava de se corresponder, e o fez com os Papas Eugenio III e Anastácio IV, e ainda com Bernardo de Clairvaux, o homem do Claro Vale, a quem eu também tanto admiro!


Não me parece que alguém tenha vivido melhor, mais completa e mais interessante vida. Como você vê, diário, ando procurando amizades na Idade Média - onde infalivelmente as ENCONTRO! 


Enfim: entre mim e a abadessa beneditina medieval se estabeleceu esta enorme empatia e verdadeira afeição -  que tem me servido de grande consolo na convivência com tanta coisa desagradável e francamente irritante do "mundo atual". Os orangos vão levar seu butim, que os acompanhará com a palermice esperada, e até com alegria. 


Não resta muita coisa a fazer senão assistir, e enquanto assisto fazer as mesmas coisas que fazia a minha amiga Hildegarde: senão com a mesma maestria incomparável, com certeza com a mesma alegria.


Sua medieval,


Rainha