SED TANTUM DIC VERBUM...

...ET SANABITUR ANIMA MEA.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Noite Silenciosa

Querido Diário,


Vivemos num mundo estridente e dissonante, onde a nossa inepta orquestração, cada vez mais tumultuada, nos afasta  daquilo que deveria ser mais natural em nós, e que é a aproximação com o Transcendente. Sinceramente, se há um instrumento que o demo usa eficazmente,  com certeza é o barulho! Como berram na televisão, diário amigo! Como gritam nos shoppings, nos celulares, nos cinemas, nos espetáculos, nas ruas! Todo tipo de artefato imaginável é inventado para despejar decibéis diretamente nos ouvidos dos seus proprietários - artefatos que inevitavelmente vazam e atingem a todos, criando uma monumental e incessante cacofonia.   


Quanto mais eu penso nisto, mais certeza tenho de que os magos vindos do oriente andaram silenciosamente, perdidos em seus pensamentos, no seu caminho sob o céu  estrelado e luminoso na direção de Belém e do Grande Mistério. Todo o universo deve ter alterado a sua face, naquela noite longínqua e eternizada - e as nossas celebrações deveriam também repetir, por um momento que fosse, o nosso assombro mudo diante do Deus Feito Homem. Pelo menos em cada noite de Natal.

Imagino que o que mais agradaria ao Deus  recém-nascido seria exatamente este majestoso silêncio, no qual toda a criação consciente se prostrasse diante do véu deste Perfeito Mistério - cuja perfeição e incompreensibilidade são  justamente a nossa maior proteção e maior dádiva. 

Assim, diário amigo, me compraz imaginar esta noite solene, plena de profundidade, na qual as galáxias giram silenciosamente em torno de uma Criança ao mesmo tempo divina e humana, o incomensurável Presente dado a toda a humanidade. Deveríamos todos ser  "o quarto mago", e caminhar com os outros, mais sábios, pela mesma trilha - seguindo a estrela  luminosa e calma na noite mágica. Nossos pés mal tocariam o chão, e as coisas todas do universo teriam seu verdadeiro sentido subitamente revelado e nítido: mesmo que depois esquecêssemos esta  Revelação, pelo tempo e pelo espaço desta noite ela teria sido compreendida por nós, e nos transformaria para sempre. Saberíamos que o sopro divino nos sustenta,  reconheceríamos quem somos, verdadeiramente - e em vez de folhas rodando num torvelinho, voltaríamos a ser como  pássaros que voam segundo um propósito.

Eu preciso deste silêncio, querido diário - e eu o tenho,  imenso e puro como uma abóbada de cristal.

Que todos também tenham a sua Noite Silenciosa neste Natal  são os votos da sua - sempre enlevada diante do Mistério contido nele -

Rainha







Um comentário:

  1. Senti arrepios silenciosos com a descrição dos reis magos na noite da maior estrela
    :)

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