SED TANTUM DIC VERBUM...

...ET SANABITUR ANIMA MEA.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O Braviu

Diário,


Depois de ler a Veja e o Globo em sua edição dominical, me veio à lembrança um programa de rádio da minha infância, no qual um personagem chamado "Asnésio" conversava com seu pai "Leôncio" e compunha redações muito interessantes - aliás, MINTO! Este era um personagem da televisão! O do rádio, se não me engano, era um "Burraldo"! 


Ingênuos e excelentes tempos aqueles, em que os burros eram PERSONAGENS! Em que alguém CRIAVA burrices das quais a gente RIA, achando engraçadíssimo aquilo! Hoje, caro diário, não faria o MENOR SENTIDO fazer tal coisa: as burrices são tantas, tão estapafúrdias e tão REAIS que não há a menor lógica em esfurucar a cuca para compor um esquete; e nem ninguém acharia graça nenhuma, já que a burrice é precisamente o MODELO atual. 


Leio aqui que há uma exposição no Rio - eu sempre xereto as exposições, claro - na qual um dos artistas apresenta a obra "O Hidrante", composta de um hidrante. A revista avisa, não sem uma certa dose de ironia, que o referido equipamento contra incêndios foi elevado à categoria de "obra-de-arte".Também leio que, em uma escola de Maceió, 30% dos alunos são viciados em crack e fumam maconha nas salas de aula. A diretora já foi ameaçada de morte e não quer mais ser diretora do referido antro, mas não há ninguém para substituí-la. O colunista e escritor Veríssimo defende o direito das mulheres de "controlar seus ventres"- o que me provoca a súbita e surrealista visão  de milhões de mulheres fazendo uma passeata brandindo cartazes com "abaixo a diarréia!" -  e assassinar seus filhos, se porventura houver algum por lá. Indevidamente, é claro. Expulsa o folgadinho e mata logo de uma vez, que é pra ele aprender a não se meter onde não é chamado. O mesmo orango completa o raciossímio (belo termo azevediano!) censurando os "religiosos" por não dispensarem aos assassinos hediondos o mesmo tratamento que dispensam aos inocentes indefesos, e - vilania máxima! - quererem para esses últimos a vida e para os outros a pena de morte - coisa que ele considera INCOMPREENSÍVEL.  Também afirma que o casamento gay vai salvar a instituição do matrimonio, que está "falida e decadente", e pelo visto vai ganhar um saudável revival.


O suplemento dominical apresenta uma reportagem na qual uma juíza e um policial fazem a apologia da legalização das drogas. Não basta descriminalizar: o negócio, segundo ambos, é "legalizar a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas". Segundo a juíza, "moralidade é algo individual" - como bunda, cada um tem a sua. E mais! A perspicaz oranga nota que, "por serem substâncias psico-ativas, são fáceis de serem demonizadas." Uau! É verdade, juíza, é verdade! Com que facilidade espantosa se demonizam substâncias psicoativas... Amazing. Vide os 30% dos alunos da escola da diretora ameaçada de morte: mór demonização, né não? Tadinhos.


Um leitor reclama de que não chamam Luifináfio de "presidente Lula", chamam só de "Lula". Ele considera essas pessoas preconceituosas e arrogantes. Bom, nessa eu não me enquadro, eu o chamo de "o bugre". 


Paulo Coelho, naquele tom maluco-beleza que passou a ser a sua segunda natureza, nos avisa doutoralmente que nenhum caminho leva a lugar nenhum, e os desafios "não são bons nem ruins: apenas desafios". Isso, é claro, se você for um "guerreiro sagrado". Não consigo imaginar nada mais estúpido, idiota e imbecil do que querer vencer um desafio meramente porque se trata de um desafio. Gostaria de estender um fio de pendurar roupa entre duas janelas do décimo andar de edifícios confrontantes e dizer a ele - Ei, Paulo, encara e atravessa - ou vai "amarelar"? 


A ÚNICA coisa que se salva do jornal e da revista é a carta de um leitor chamado Rodolpho que compara a aceitação de gays assumidos nas Forças Armadas a contratar um gago para desempenhar a função de telefonista.
Valeu, Rodolpho! Se não fosse pela sua carta, era perda total.


A VOZ do personagem defunto ecoa num rádio há muito tempo emudecido, a não ser por este remoto sinal dentro de mim - "O Braviu. O Bra-viu-é-um-pa-ís-de-ma-ca-cos-on-de-tu-do-é-mui-to-in-te-res-san-te". 


Meu Deus, o que fizeram do meu país, a minha pátria amada? 


Nem dá vontade de escrever mais nada. O jornal e a revista permanecem em cima da mesinha, como um testemunho do horror, do horror, do horror. Não há lixo para embrulhar, e me parece mais adequado, pelo menos como um ato simbólico, queimá-los na lareira, apesar do caloréu que nos assola. Coisa que eu farei em seguida.Em protesto pelas ações, pelas defesas, pelas reportagens, por tudo.


Sua DESOLADA,


Rainha

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