SED TANTUM DIC VERBUM...

...ET SANABITUR ANIMA MEA.

sábado, 30 de outubro de 2010

Ah, o Brasil!...

Diário,


Perdemos o Brasil, eu penso. Andava muito aborrecida com isto, mas de repente me dei conta de que ele já estava perdido há muito tempo! Foi lá trás, em algum longínquo e ensolarado "dia qualquer", que aquilo que era até então algo quantitativo tornou-se qualitativo - e o país chamado Brasil passou a ser mais um domínio do orango predador neste mundo de meu Deus. 


A interlocução, a conversa,  tornou-se difícil: tão difícil que, nos últimos tempos, ela passou a ser - pelo menos para mim - algo a ser deliberadamente BUSCADO, procurado de propósito. Não é mais possível, ou é terrivelmente difícil, FALAR com as pessoas e encontrar quem responda. Entre o coração humano e o duro  caroço que passa pela mesma coisa entre os orangos, ergue-se a parede intransponível da imoralidade.  E entre esses dois paradigmas vaga, desnorteada e babando, a multidão dos imbecilizados, cuja imbecilidade vai se tornando paulatinamente CRÔNICA, como uma espécie de reumatismo  moral que tolhe todos os movimentos do que um dia foi um intelecto.


Não há muito, em termos práticos, POR QUE lutar, nem O QUE defender: o predador avança em cima de uma multidão que JÁ É butim, independentemente deste avanço! 


Ando lendo, para me consolar, os escritos dos que viveram em outros tempos: e você não imagina como foi bom encontrar Hildegarde de Bingen, santa católica,  que gostava de plantar ervas, também de cozinhar, e foi  filósofa extraordinária e  extraordinária visionária - além de desenhar estupendamente, e ilustrar suas visões simbológicas com excepcional maestria! Passei a ser grande admiradora da Sibila do Reno, que entre outras coisas inventou uma linguagem à qual chamou de Lingua Ignota  - com seu próprio alfabeto, é claro:  as Litterae Ignotae - e recebeu a ordem divina de reproduzir suas visões e escrever sobre elas, coisa que lindamente fez! Foi ainda enfermeira, compositora (belíssima música!) e uma pessoa determinada, empenhada e corajosa: a quem ninguém, inclusive as autoridades eclesiásticas do seu tempo, jamais se opôs. E tudo isto sem jamais deixar de ser humana, alegre, informal e SIMPLES - sem um pingo de nhenhenhé!
E, imagine: Hildegarde gostava de se corresponder, e o fez com os Papas Eugenio III e Anastácio IV, e ainda com Bernardo de Clairvaux, o homem do Claro Vale, a quem eu também tanto admiro!


Não me parece que alguém tenha vivido melhor, mais completa e mais interessante vida. Como você vê, diário, ando procurando amizades na Idade Média - onde infalivelmente as ENCONTRO! 


Enfim: entre mim e a abadessa beneditina medieval se estabeleceu esta enorme empatia e verdadeira afeição -  que tem me servido de grande consolo na convivência com tanta coisa desagradável e francamente irritante do "mundo atual". Os orangos vão levar seu butim, que os acompanhará com a palermice esperada, e até com alegria. 


Não resta muita coisa a fazer senão assistir, e enquanto assisto fazer as mesmas coisas que fazia a minha amiga Hildegarde: senão com a mesma maestria incomparável, com certeza com a mesma alegria.


Sua medieval,


Rainha





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