Querido diário,
A horda de imbecis começa a esquecer, como esperado, as causas - e os efeitos - da recente "tragédia das chuvas"", que deve ser no mínimo a centésima a merecer este nome. Os orangos, como você sabe, DETESTAM a VERDADE: aliás, detestam qualquer coisa associada a ela. Os orangos são perfeitamente capazes de lutar pela paz, pela justiça social, pela pela regulamentação de profissões como prostituta e cafetão, pela sua idéia de tolerância, pela educação sexual no jardim-de-infância - enfim, lutam, e lutam ferozmente, por literalmente qualquer coisa: MENOS, é claro, por algo que remotamente tenha a ver com a VERDADE.
Que, é claro, eles "não sabem o que é" - mais que isso: NEGAM que exista.
Jesus Cristo, ao que me consta, nunca disse "Eu sou o Caminho, a Tolerância e a Vida", e nem "Eu sou o Caminho, a Boa-Vontade e a Vida", ou nem mesmo "Eu sou o Caminho, o Paz e a Vida'" . DISSE, isto sim, "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".
É evidente,é explícito, que todas as virtudes - como a tolerância, a boa-vontade e o desejo de paz - DEVEM, por ordem divina, estar hierarquicamente submetidas, estar contidas, no grande âmbito da VERDADE!
O orangal, querido amigo, ignora completamente esta hierarquia, mesmo tendo ela sido claramente indicada. O orangal luta para submeter a Verdade - a INSUBMISSÍVEL - a essas outras coisas. Que só são realmente virtudes, só têm este caráter virtuoso, SE submissas à Verdade: caso contrário, são uma bagaça idiota que não serve para nada.
E, diário amigo, por recusar terminantemente todas as "tolerâncias", todas as "pazes" e todas as "boas-vontades" que me são oferecidas fora do âmbito da minha amada Verdade, eu sou, é evidente, catalogada como "intolerante", "anti-paz" e cheia de "má-vontade". Como outros, é claro!
Bem: o orangal, então, persiste na sua marcha, sempre levantando a bandeira dessas insubmissões e desses erros, na busca cega por um treco que eles chamam de "paz", outro que chamam de "boa-vontade", e ainda outro que chamam de "tolerância"- sendo que nenhuma dessas coisas tem qualquer parentesco com os nomes que carregam, uma vez que a legitimidade desses nobres nomes só poderia existir se HOUVESSE a submissão desses conceitos à VERDADE, que é superior a todas elas.
Talvez por isso os orangos acabem mesmo por gastar grande parte do seu tempo em se preocupar com a roupa que usarão no desempenho de suas funções imbecis a serviço dessas falsidades todas - das quais, como me ensinaram desde criança, o inferno está cheio.
Sua sempre verdadeira por amor à Verdade, e insubmissa como ela,
Rainha
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Palermas esperançosos
Querido Diário,
Quando estava rolando a campanha presidencial no ano passado, 99% das pessoas que eu conheço pareciam pensar o mesmo que eu: que a mocoronga comunista, guerrilheira, terrorista, ladra, sequestradora e assassina chamada Dilma Rousseff, se eleita fosse, representaria mais um passo dado pelo país e sua população no rumo do completo caos. Ninguém, rigorosamente ninguém, da minha lista de amigos e conhecidos discordava disso: e, assim como eu, todo mundo se ocupava em divulgar ao máximo todo o cinismo, todas as mentiras, toda a tapeação e toda a canalhice que eram parte integrante da campanha da referida mocoronga, comunista, guerrilheira, etc.
Pois muito bem: inacreditável como possa parecer, caro diário, a partir da infeliz eleição da dita cuja ladra, sequestradora, assassina, etc, as mesmas pessoas, tomadas de um súbito ataque de demência e imoralidade, começaram a "desejar sorte"para a referida terrorista mocoronga!!!!! É algo realmente incrível, este fenômeno! Se eu achasse que o que tinha contra a mencionada criatura era questão de "sorte" - coisa na qual, como já amplamente divulgado, eu nunca acreditei - eu não teria, evidentemente, chamado a vilíssima oranga de terrorista, ou de guerrilheira, ou de ladra, ou de comunista! Se chamei, é - obviamente - porque ela é todas essas coisas! E se ela é todas essas coisas, como pode ser cabível esta "esperança" absurda?
I mean, QUE GENTE É ESSA, que junto comigo acusou Dilma de ser o que é, e agora manda as acusações para a casa do cacete, como se elas não tivessem existido? Quer dizer então que as pessoas "esperam" que uma terrorista assassina, sequestradora e ladra, conforme elas mesmas, junto comigo, a acusaram de ser - de repente "faça um bom governo"? E, se tal esperança é sincera e honesta, como então a acusaram lá atrás de ser quem é?
Há uma incongruência tamanha entre a oposição feita na campanha e os atuais "bons votos" que eu estou boquiaberta há uma semana! Que coisa, caramba! Pelas minhas contas, antes que março comece eu temo que terei definido como retardado e/ou hipócrita praticamente todo mundo que eu conheço!
Eis aí, aberto como um livro aberto, explícito como uma cena de pornografia explícita, exposto aos olhos de quem quiser ver, o mal do Brasil: o absoluto, o completo, o total desvínculo com a realidade. Creio honestamente que em nenhum outro lugar do mundo, em nenhuma outra população do mundo, este desvínculo existe com a contundência brutal com que existe aqui: os brasileiros, mesmo os melhores, simplesmente anulam a realidade com espantosa facilidade e a substituem por "impressões", por "esperanças", por sei lá que cenário estapafúrdio inventado que nem de longe tem qualquer nexo de sentido ou ligação com o mundo real. A presteza com que as pessoas caem nas tapeações é tamanha que eu nem sei, diário, se posso falar em "tapeação" - porque tapeação exige a participação ativa de um tapeador, um certo trabalho de convencimento: e o que eu vejo aqui é que aqui este trabalho é supérfluo; as pessoas se tapeiam elas mesmas, sozinhas, sem que haja necessidade da ação de mais ninguém!!!
Épatant, amazing, estarrecedor: de uma hora para outra, o país dos lesadinhos se esqueceu de TUDO o que representa a eleição da terrorista petralha, a gerentona do Foro de São Paulo - e passaram todos a "esperar", com os olhos úmidos e um sorriso abestalhado nas fuças, que "ela faça um bom governo"! Pode uma coisa dessas, diário?
Denis Rosenfield compara a política da "distribuição de cargos" à qual assistimos a um ato de pornografia ofensivo a qualquer ser humano normal; eu diria que é até mais do que isto, é um assalto feito desavergonhadamente, despudoradamente, dentro dos piores padrões das gangues de bandidos; mesmo assim, os brasileiros seguem pensando nos "dias melhores" que virão! Em matéria de estupidez apalermada, somos campeões mundiais. Hors concours, diário amigo.
Bom, enfim. Que Deus se apiade de todos, inclusive desta sua irritadíssima
Rainha
Quando estava rolando a campanha presidencial no ano passado, 99% das pessoas que eu conheço pareciam pensar o mesmo que eu: que a mocoronga comunista, guerrilheira, terrorista, ladra, sequestradora e assassina chamada Dilma Rousseff, se eleita fosse, representaria mais um passo dado pelo país e sua população no rumo do completo caos. Ninguém, rigorosamente ninguém, da minha lista de amigos e conhecidos discordava disso: e, assim como eu, todo mundo se ocupava em divulgar ao máximo todo o cinismo, todas as mentiras, toda a tapeação e toda a canalhice que eram parte integrante da campanha da referida mocoronga, comunista, guerrilheira, etc.
Pois muito bem: inacreditável como possa parecer, caro diário, a partir da infeliz eleição da dita cuja ladra, sequestradora, assassina, etc, as mesmas pessoas, tomadas de um súbito ataque de demência e imoralidade, começaram a "desejar sorte"para a referida terrorista mocoronga!!!!! É algo realmente incrível, este fenômeno! Se eu achasse que o que tinha contra a mencionada criatura era questão de "sorte" - coisa na qual, como já amplamente divulgado, eu nunca acreditei - eu não teria, evidentemente, chamado a vilíssima oranga de terrorista, ou de guerrilheira, ou de ladra, ou de comunista! Se chamei, é - obviamente - porque ela é todas essas coisas! E se ela é todas essas coisas, como pode ser cabível esta "esperança" absurda?
I mean, QUE GENTE É ESSA, que junto comigo acusou Dilma de ser o que é, e agora manda as acusações para a casa do cacete, como se elas não tivessem existido? Quer dizer então que as pessoas "esperam" que uma terrorista assassina, sequestradora e ladra, conforme elas mesmas, junto comigo, a acusaram de ser - de repente "faça um bom governo"? E, se tal esperança é sincera e honesta, como então a acusaram lá atrás de ser quem é?
Há uma incongruência tamanha entre a oposição feita na campanha e os atuais "bons votos" que eu estou boquiaberta há uma semana! Que coisa, caramba! Pelas minhas contas, antes que março comece eu temo que terei definido como retardado e/ou hipócrita praticamente todo mundo que eu conheço!
Eis aí, aberto como um livro aberto, explícito como uma cena de pornografia explícita, exposto aos olhos de quem quiser ver, o mal do Brasil: o absoluto, o completo, o total desvínculo com a realidade. Creio honestamente que em nenhum outro lugar do mundo, em nenhuma outra população do mundo, este desvínculo existe com a contundência brutal com que existe aqui: os brasileiros, mesmo os melhores, simplesmente anulam a realidade com espantosa facilidade e a substituem por "impressões", por "esperanças", por sei lá que cenário estapafúrdio inventado que nem de longe tem qualquer nexo de sentido ou ligação com o mundo real. A presteza com que as pessoas caem nas tapeações é tamanha que eu nem sei, diário, se posso falar em "tapeação" - porque tapeação exige a participação ativa de um tapeador, um certo trabalho de convencimento: e o que eu vejo aqui é que aqui este trabalho é supérfluo; as pessoas se tapeiam elas mesmas, sozinhas, sem que haja necessidade da ação de mais ninguém!!!
Épatant, amazing, estarrecedor: de uma hora para outra, o país dos lesadinhos se esqueceu de TUDO o que representa a eleição da terrorista petralha, a gerentona do Foro de São Paulo - e passaram todos a "esperar", com os olhos úmidos e um sorriso abestalhado nas fuças, que "ela faça um bom governo"! Pode uma coisa dessas, diário?
Denis Rosenfield compara a política da "distribuição de cargos" à qual assistimos a um ato de pornografia ofensivo a qualquer ser humano normal; eu diria que é até mais do que isto, é um assalto feito desavergonhadamente, despudoradamente, dentro dos piores padrões das gangues de bandidos; mesmo assim, os brasileiros seguem pensando nos "dias melhores" que virão! Em matéria de estupidez apalermada, somos campeões mundiais. Hors concours, diário amigo.
Bom, enfim. Que Deus se apiade de todos, inclusive desta sua irritadíssima
Rainha
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Noite Silenciosa
Querido Diário,
Vivemos num mundo estridente e dissonante, onde a nossa inepta orquestração, cada vez mais tumultuada, nos afasta daquilo que deveria ser mais natural em nós, e que é a aproximação com o Transcendente. Sinceramente, se há um instrumento que o demo usa eficazmente, com certeza é o barulho! Como berram na televisão, diário amigo! Como gritam nos shoppings, nos celulares, nos cinemas, nos espetáculos, nas ruas! Todo tipo de artefato imaginável é inventado para despejar decibéis diretamente nos ouvidos dos seus proprietários - artefatos que inevitavelmente vazam e atingem a todos, criando uma monumental e incessante cacofonia.
Vivemos num mundo estridente e dissonante, onde a nossa inepta orquestração, cada vez mais tumultuada, nos afasta daquilo que deveria ser mais natural em nós, e que é a aproximação com o Transcendente. Sinceramente, se há um instrumento que o demo usa eficazmente, com certeza é o barulho! Como berram na televisão, diário amigo! Como gritam nos shoppings, nos celulares, nos cinemas, nos espetáculos, nas ruas! Todo tipo de artefato imaginável é inventado para despejar decibéis diretamente nos ouvidos dos seus proprietários - artefatos que inevitavelmente vazam e atingem a todos, criando uma monumental e incessante cacofonia.
Quanto mais eu penso nisto, mais certeza tenho de que os magos vindos do oriente andaram silenciosamente, perdidos em seus pensamentos, no seu caminho sob o céu estrelado e luminoso na direção de Belém e do Grande Mistério. Todo o universo deve ter alterado a sua face, naquela noite longínqua e eternizada - e as nossas celebrações deveriam também repetir, por um momento que fosse, o nosso assombro mudo diante do Deus Feito Homem. Pelo menos em cada noite de Natal.
Imagino que o que mais agradaria ao Deus recém-nascido seria exatamente este majestoso silêncio, no qual toda a criação consciente se prostrasse diante do véu deste Perfeito Mistério - cuja perfeição e incompreensibilidade são justamente a nossa maior proteção e maior dádiva.
Assim, diário amigo, me compraz imaginar esta noite solene, plena de profundidade, na qual as galáxias giram silenciosamente em torno de uma Criança ao mesmo tempo divina e humana, o incomensurável Presente dado a toda a humanidade. Deveríamos todos ser "o quarto mago", e caminhar com os outros, mais sábios, pela mesma trilha - seguindo a estrela luminosa e calma na noite mágica. Nossos pés mal tocariam o chão, e as coisas todas do universo teriam seu verdadeiro sentido subitamente revelado e nítido: mesmo que depois esquecêssemos esta Revelação, pelo tempo e pelo espaço desta noite ela teria sido compreendida por nós, e nos transformaria para sempre. Saberíamos que o sopro divino nos sustenta, reconheceríamos quem somos, verdadeiramente - e em vez de folhas rodando num torvelinho, voltaríamos a ser como pássaros que voam segundo um propósito.
Eu preciso deste silêncio, querido diário - e eu o tenho, imenso e puro como uma abóbada de cristal.
Que todos também tenham a sua Noite Silenciosa neste Natal são os votos da sua - sempre enlevada diante do Mistério contido nele -
Rainha
domingo, 14 de novembro de 2010
O Codex Voynich
Diário querido,
Hoje eu pensava em deixar registrada nesta página uma lista das coisas tremendas que andam acontecendo por aqui, todas terríveis! Vamos mal, diário - vamos pessimamente! A tal da "escalada da violência"chega a alturas cada vez maiores: agora, os bandidos se ocupam não mais em roubar carros, mas em incendiar carros! Jogam gasolina e tacam fogo! Imagine-se o pavor das pessoas, na antiga São Sebastião do Rio de Janeiro, hoje transformada em aterrorizante Babel sob o domínio do tráfico! Me contaram que os bandidos estariam "se vingando" do fato de terem sido expulsos para paragens mais distantes - já que a polícia, segundo também me informam, ocupou os morros de frente para o mar da zona sul! Eu não pretendo mais pisar lá, naquela que foi a minha amada cidade por tantos anos: e creio que nunca mais verei o verde da floresta em volta da casa do Alto, a não ser com os olhos da memória... Nem os macaquinhos da dona Norma, se é que ainda existem! Adeus Lagoa, adeus praias, adeus aterro do Flamengo, Urca, Cristo Redentor e Pão-deAçúcar! Adeus Guanabara, que vai morar na minha lembrança ainda com o reflexo do anúncio da Salutáris, e a garrafa que derramava luz nas águas da baía em cintilantes tracinhos!
Bem, caro diário - como eu disse, esta ERA a idéia: uma espécie de ode à cidade perdida, ao país perdido para os orangos estúpidos que destroem tudo sem a menor piedade. Mas não é o que farei, afinal: a lista era tão grande, as coisas a dizer tão amargas, que eu desanimei e resolvi deixar para outro dia menos melancólico do que este domingo cinzento. Hoje eu falarei do chamado Codex Voynich, um manuscrito medieval que há alguns meses ocupa parte importante da minha curiosidade, e cujos desenhos venho copiando laboriosamente, sem ter dado um único passo na direção de entender o que vem a ser aquele fascinante mistério!
A história é a seguinte, em resumo: no começo do século XX, um livreiro alemão especializado em vender raridades bibliográficas para milionários e aristocratas viajou para uma daquelas encantadoras cidadezinhas italianas, onde velhos monges de um velho mosteiro haviam posto à venda sua mais velha ainda biblioteca. Uma triste realidade, diário: os antigos pergaminhos, tão custosamente reunidos, e a tão duras penas conservados juntos, seriam separados, para passar a fazer parte de coleções esparsas, talvez para que um ricaço entediado mostrasse a seus contemporâneos mais um símbolo de status. Bom, enfim, caro diário, este é o destino das coisas, sei muito bem! E foi melhor assim, no caso - uma vez que depois viriam duas guerras mundiais, e talvez o velho mosteiro e sua bela biblioteca fossem destruídos pela sanha ou pela ignorância dos combatentes. O fato é que o livreiro alemão, depois de ter avaliado competentemente os lotes à venda e separado os que lhe interessavam (já na certa pensando nos possíveis compradores para aqueles tesouros), num último gesto, quase como um afterthought, passou a mão num pequenino opúsculo ilustrado, escrito em caracteres que ele não conhecia, e que, como ele mesmo afirmou mais tarde, escolheu apenas "por causa das ilustrações". Que, embora não tivessem o rico e detalhado aspecto das iluminuras medievais com as quais o livreiro estava acostumado, possuíam uma certa qualidade artística que prendeu a sua atenção. Eu diria, caro diário, que o livrinho mais ou menos obrigou o livreiro a levá-lo junto com os outros tesouros!
Bem, avante. O nome do livreiro, como você certamente já sacou, era Herr Voynich - e aquele manuscrito ficou, portanto, conhecido como o "Codex Voynich". Herr Voynich, além de alemão, era judeu - e suficientemente inteligente e rico para ter percebido, anos depois, que boa coisa não viria para os judeus da Europa por parte de Adolf Hitler e de Joseph Stalin: e mudou-se, é claro, para a América - acompanhado, pois tomou esta providência a tempo, de sua coleção de livros raros. Folgo em dizer que Herr Voynich se estabeleceu tranquilamente em Nova Iorque e logo estava muito bem, obrigado, com toda a sua família, uma loja no Upper East Side, seus belos livros a salvo e uma carteira de clientes invejável - e, até então, ninguém havia se interessado em comprar o Codex: e eu adivinho que Herr Voynich tinha um afeto especial pelo livrinho misterioso, seus desenhos intrigantes e seus textos escritos em caracteres desconhecidos.
To make a long story short, o fato é que nenhum dos experts em linguística conseguiu descobrir a qual língua, viva ou morta, pertenciam os tais caracteres - e a coisa foi tomando uma proporção tamanha que começaram a aparecer diversos desses doutos senhores para se oferecer, espontaneamente, para decifrar aquilo! E nenhum conseguiu! Para justificar esta impossibilidade, naturalmente passou-se a pensar que o texto era codificado, e portanto um caso não para os experts em linguística, apenas: mas para uma ação conjunta deles e de experts em criptografia. A segunda guerra havia trazido um considerável progresso para a ciência criptológica, e logo também apareceram pessoas abalizadas nesta área se propondo a desmantelar o segredo do manuscrito; li que um desses especialistas, depois de uma olhadela perfunctória, afirmou que "em dois dias quebraria o código".
Mas NÃO quebrou, é claro! O Códex Voynich permaneceu impermeável a todas as tentativas feitas - e desde então técnicos da NASA, arqueólogos do mundo inteiro, palpiteiros, tutti quanti, têm se revezado no trabalho de entender o que está escrito ali. Submeteram os textos aos computadores mais bem programados para este tipo de tarefa - e NADA! A frequência dos caracteres e a extensão dos vocábulos indica uma "linguagem natural"- e eu ouso dizer que o cursivo em que o texto foi escrito indica mais ainda a naturalidade espontânea, a "fluência gráfica" de quem está escrevendo sem o menor esforço e sem a menor contrafação. E mais: eu tenho certeza de que TODO o texto foi escrito pela mesma mão, embora em mais de uma ocasião. E a MESMA pessoa também fez as ilustrações.
Eu sei disso pelo fato absolutamente SIMPLES de ter feito o mesmo tipo de coisa centenas de vezes - desenhado uma coisa qualquer e depois ter escrito à volta, ou mesmo dentro, dos limites do desenho! Sem exatamente "programar", mas fazendo isto como um processo absolutamente natural, e é claro que intencional.
Há páginas sem desenho nenhum, só com texto - assim como há algumas com desenhos e legendas curtas, ou somente com desenhos. O livro se divide em quatro partes: a primeira trata de plantas, de esboços de plantas, completas com seus sistemas radiculares, caules, folhas e flores; a segunda parte mostra adoráveis ninfas - sempre mulheres - nuas e singelamente desenhadas, perambulando por sistemas de tubos e válvulas - que a mim parecem ser sistemas vegetais, não animais. A terceira parte é cosmológica, cheia de estrelas e mandalas zodiacais, no centro das quais aparecem representações dos signos conhecidos, como o Carneiro, o Leão e o Arqueiro. E a última parte me parece um receituário, ilustrado por uma porção de potes, e jarros, e fornos, e toda a parafernália necessária para se fazer e guardar remédios ou conservas. Além dos ingredientes, é claro.
Um amigo se referiu a este conjunto singular como um grimório, um livro de magia: mas, a rigor, TODO livro não deixa de ser mágico, de certa forma - uma vez que é capaz de despertar faculdades e provocar sensações e ativar pensamentos e emoções em seus leitores. O que evidentemente não significa que seja "mau", é óbvio! Apenas que toca e impressiona, através de uma via simbológica, um território oculto - que é a mente do leitor. Há uma certa controvérsia, a respeito disto - da diferença entre um livro "mágico"ou um que deliberadamente se proponha a "executar" isto ou aquilo; eu creio que a distinção é vaga, e entendo essas coisas apenas como BOAS ou MÁS. E, pelo mísero valor que isto tenha, creio firmemente que o pequeno Codex Voynich é definitivamente benigno!
O interessante é que não apenas a sua linguagem não foi decifrada, mas também as plantas ali representadas com tantos detalhes são desconhecidas, nunca encontradas, inexistentes no mundo real e visível. Como também são desconhecidos os sistemas tubulares e valvulescos, e as mandalas estreladas não se referem a constelações existentes. Antes de morrer, e por absoluta falta de compradores interessados, Herr Voynich doou o Codex que leva seu nome à biblioteca de Yale, que fez o estupendo favor de digitalizar e devidamente disponibilizar pela Internet, para os curiosos como eu, folha por folha da pequenina maravilha.
Venho então, querido diário, me ocupando em reproduzir muitos desses desenhos, com grande satisfação e talvez algum proveito. As cores são poucas, penso eu que os pigmentos são apenas TRÊS: um azul, um vermelho e um amarelo ocre. Com a mistura dessas três cores básicas o autor conseguiu uma razoável variação de verdes, chegando a um lindo turquesa, e alguma variação entre o marrom e o ocre, penso eu que usando também o pigmento da tinta com a qual escreveu o texto, e que é escura. E deixou o vermelho quase sempre puro, sem misturá-lo muito. O resultado, aos meus olhos, é encantador.
Esqueci de dizer que as indefectíveis "análises de carbono14" colocam o manuscrito entre os séculos XV e XVI - mas mais uma vez algo me diz que ele foi escrito duzentos anos ANTES disto, e talvez ainda antes. Não me pergunte por que, diário amigo: eu sou notoriamente refratária, assim como o Codex Voynich, aos deciframentos deste mundo... Talvez seja exatamente ESTE o motivo pelo qual eu o acho tão extraordinariamente próximo. Foi a palavra que me ocorreu, caro diário: tão próximo quanto os moleskines que se empilham nas minhas gavetas, cheios de desenhos e textos que serão, quem sabe, encontrados num futuro distante, reliqua de um passado perdido.E que serão, eu temo, igualmente indecifráveis.
Hoje eu pensava em deixar registrada nesta página uma lista das coisas tremendas que andam acontecendo por aqui, todas terríveis! Vamos mal, diário - vamos pessimamente! A tal da "escalada da violência"chega a alturas cada vez maiores: agora, os bandidos se ocupam não mais em roubar carros, mas em incendiar carros! Jogam gasolina e tacam fogo! Imagine-se o pavor das pessoas, na antiga São Sebastião do Rio de Janeiro, hoje transformada em aterrorizante Babel sob o domínio do tráfico! Me contaram que os bandidos estariam "se vingando" do fato de terem sido expulsos para paragens mais distantes - já que a polícia, segundo também me informam, ocupou os morros de frente para o mar da zona sul! Eu não pretendo mais pisar lá, naquela que foi a minha amada cidade por tantos anos: e creio que nunca mais verei o verde da floresta em volta da casa do Alto, a não ser com os olhos da memória... Nem os macaquinhos da dona Norma, se é que ainda existem! Adeus Lagoa, adeus praias, adeus aterro do Flamengo, Urca, Cristo Redentor e Pão-deAçúcar! Adeus Guanabara, que vai morar na minha lembrança ainda com o reflexo do anúncio da Salutáris, e a garrafa que derramava luz nas águas da baía em cintilantes tracinhos!
Bem, caro diário - como eu disse, esta ERA a idéia: uma espécie de ode à cidade perdida, ao país perdido para os orangos estúpidos que destroem tudo sem a menor piedade. Mas não é o que farei, afinal: a lista era tão grande, as coisas a dizer tão amargas, que eu desanimei e resolvi deixar para outro dia menos melancólico do que este domingo cinzento. Hoje eu falarei do chamado Codex Voynich, um manuscrito medieval que há alguns meses ocupa parte importante da minha curiosidade, e cujos desenhos venho copiando laboriosamente, sem ter dado um único passo na direção de entender o que vem a ser aquele fascinante mistério!
A história é a seguinte, em resumo: no começo do século XX, um livreiro alemão especializado em vender raridades bibliográficas para milionários e aristocratas viajou para uma daquelas encantadoras cidadezinhas italianas, onde velhos monges de um velho mosteiro haviam posto à venda sua mais velha ainda biblioteca. Uma triste realidade, diário: os antigos pergaminhos, tão custosamente reunidos, e a tão duras penas conservados juntos, seriam separados, para passar a fazer parte de coleções esparsas, talvez para que um ricaço entediado mostrasse a seus contemporâneos mais um símbolo de status. Bom, enfim, caro diário, este é o destino das coisas, sei muito bem! E foi melhor assim, no caso - uma vez que depois viriam duas guerras mundiais, e talvez o velho mosteiro e sua bela biblioteca fossem destruídos pela sanha ou pela ignorância dos combatentes. O fato é que o livreiro alemão, depois de ter avaliado competentemente os lotes à venda e separado os que lhe interessavam (já na certa pensando nos possíveis compradores para aqueles tesouros), num último gesto, quase como um afterthought, passou a mão num pequenino opúsculo ilustrado, escrito em caracteres que ele não conhecia, e que, como ele mesmo afirmou mais tarde, escolheu apenas "por causa das ilustrações". Que, embora não tivessem o rico e detalhado aspecto das iluminuras medievais com as quais o livreiro estava acostumado, possuíam uma certa qualidade artística que prendeu a sua atenção. Eu diria, caro diário, que o livrinho mais ou menos obrigou o livreiro a levá-lo junto com os outros tesouros!
Bem, avante. O nome do livreiro, como você certamente já sacou, era Herr Voynich - e aquele manuscrito ficou, portanto, conhecido como o "Codex Voynich". Herr Voynich, além de alemão, era judeu - e suficientemente inteligente e rico para ter percebido, anos depois, que boa coisa não viria para os judeus da Europa por parte de Adolf Hitler e de Joseph Stalin: e mudou-se, é claro, para a América - acompanhado, pois tomou esta providência a tempo, de sua coleção de livros raros. Folgo em dizer que Herr Voynich se estabeleceu tranquilamente em Nova Iorque e logo estava muito bem, obrigado, com toda a sua família, uma loja no Upper East Side, seus belos livros a salvo e uma carteira de clientes invejável - e, até então, ninguém havia se interessado em comprar o Codex: e eu adivinho que Herr Voynich tinha um afeto especial pelo livrinho misterioso, seus desenhos intrigantes e seus textos escritos em caracteres desconhecidos.
To make a long story short, o fato é que nenhum dos experts em linguística conseguiu descobrir a qual língua, viva ou morta, pertenciam os tais caracteres - e a coisa foi tomando uma proporção tamanha que começaram a aparecer diversos desses doutos senhores para se oferecer, espontaneamente, para decifrar aquilo! E nenhum conseguiu! Para justificar esta impossibilidade, naturalmente passou-se a pensar que o texto era codificado, e portanto um caso não para os experts em linguística, apenas: mas para uma ação conjunta deles e de experts em criptografia. A segunda guerra havia trazido um considerável progresso para a ciência criptológica, e logo também apareceram pessoas abalizadas nesta área se propondo a desmantelar o segredo do manuscrito; li que um desses especialistas, depois de uma olhadela perfunctória, afirmou que "em dois dias quebraria o código".
Mas NÃO quebrou, é claro! O Códex Voynich permaneceu impermeável a todas as tentativas feitas - e desde então técnicos da NASA, arqueólogos do mundo inteiro, palpiteiros, tutti quanti, têm se revezado no trabalho de entender o que está escrito ali. Submeteram os textos aos computadores mais bem programados para este tipo de tarefa - e NADA! A frequência dos caracteres e a extensão dos vocábulos indica uma "linguagem natural"- e eu ouso dizer que o cursivo em que o texto foi escrito indica mais ainda a naturalidade espontânea, a "fluência gráfica" de quem está escrevendo sem o menor esforço e sem a menor contrafação. E mais: eu tenho certeza de que TODO o texto foi escrito pela mesma mão, embora em mais de uma ocasião. E a MESMA pessoa também fez as ilustrações.
Eu sei disso pelo fato absolutamente SIMPLES de ter feito o mesmo tipo de coisa centenas de vezes - desenhado uma coisa qualquer e depois ter escrito à volta, ou mesmo dentro, dos limites do desenho! Sem exatamente "programar", mas fazendo isto como um processo absolutamente natural, e é claro que intencional.
Há páginas sem desenho nenhum, só com texto - assim como há algumas com desenhos e legendas curtas, ou somente com desenhos. O livro se divide em quatro partes: a primeira trata de plantas, de esboços de plantas, completas com seus sistemas radiculares, caules, folhas e flores; a segunda parte mostra adoráveis ninfas - sempre mulheres - nuas e singelamente desenhadas, perambulando por sistemas de tubos e válvulas - que a mim parecem ser sistemas vegetais, não animais. A terceira parte é cosmológica, cheia de estrelas e mandalas zodiacais, no centro das quais aparecem representações dos signos conhecidos, como o Carneiro, o Leão e o Arqueiro. E a última parte me parece um receituário, ilustrado por uma porção de potes, e jarros, e fornos, e toda a parafernália necessária para se fazer e guardar remédios ou conservas. Além dos ingredientes, é claro.
Um amigo se referiu a este conjunto singular como um grimório, um livro de magia: mas, a rigor, TODO livro não deixa de ser mágico, de certa forma - uma vez que é capaz de despertar faculdades e provocar sensações e ativar pensamentos e emoções em seus leitores. O que evidentemente não significa que seja "mau", é óbvio! Apenas que toca e impressiona, através de uma via simbológica, um território oculto - que é a mente do leitor. Há uma certa controvérsia, a respeito disto - da diferença entre um livro "mágico"ou um que deliberadamente se proponha a "executar" isto ou aquilo; eu creio que a distinção é vaga, e entendo essas coisas apenas como BOAS ou MÁS. E, pelo mísero valor que isto tenha, creio firmemente que o pequeno Codex Voynich é definitivamente benigno!
O interessante é que não apenas a sua linguagem não foi decifrada, mas também as plantas ali representadas com tantos detalhes são desconhecidas, nunca encontradas, inexistentes no mundo real e visível. Como também são desconhecidos os sistemas tubulares e valvulescos, e as mandalas estreladas não se referem a constelações existentes. Antes de morrer, e por absoluta falta de compradores interessados, Herr Voynich doou o Codex que leva seu nome à biblioteca de Yale, que fez o estupendo favor de digitalizar e devidamente disponibilizar pela Internet, para os curiosos como eu, folha por folha da pequenina maravilha.
Venho então, querido diário, me ocupando em reproduzir muitos desses desenhos, com grande satisfação e talvez algum proveito. As cores são poucas, penso eu que os pigmentos são apenas TRÊS: um azul, um vermelho e um amarelo ocre. Com a mistura dessas três cores básicas o autor conseguiu uma razoável variação de verdes, chegando a um lindo turquesa, e alguma variação entre o marrom e o ocre, penso eu que usando também o pigmento da tinta com a qual escreveu o texto, e que é escura. E deixou o vermelho quase sempre puro, sem misturá-lo muito. O resultado, aos meus olhos, é encantador.
Esqueci de dizer que as indefectíveis "análises de carbono14" colocam o manuscrito entre os séculos XV e XVI - mas mais uma vez algo me diz que ele foi escrito duzentos anos ANTES disto, e talvez ainda antes. Não me pergunte por que, diário amigo: eu sou notoriamente refratária, assim como o Codex Voynich, aos deciframentos deste mundo... Talvez seja exatamente ESTE o motivo pelo qual eu o acho tão extraordinariamente próximo. Foi a palavra que me ocorreu, caro diário: tão próximo quanto os moleskines que se empilham nas minhas gavetas, cheios de desenhos e textos que serão, quem sabe, encontrados num futuro distante, reliqua de um passado perdido.E que serão, eu temo, igualmente indecifráveis.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Os macacos e o Brave New World
Diário,
Minha irmã Giselle diz, e eu concordo, que o Brasil é um país tão estúpido, e criou mecanismos tão grotescos em torno da sua própria estupidez, que NADA - inclusive planos malévolos - pode realmente funcionar por aqui! Quando eu falo das abomináveis intenções do Foro de São Paulo ou dos paradigmas malignos da Nova Ordem Mundial, ela faz um olhar filosófico e diz - "não se preocupe; não vão conseguir fazer nada disso aqui".
Como naquele texto cômico a respeito das desventuras dos dois terroristas da Al Qaeda encarregados de bombardear a estátua do Cristo Redentor, que acabaram num hospital do SUS com um ataque severo de diarréia provocado por uma empadinha contaminada, depois de ter sido surrados por traficantes que os confundiram com membros de uma facção rival, a nossa VISCERAL incompetência e grotesca imbecilidade impedem, segundo ela, que qualquer tipo de ação organizada - boa ou má - possa dar certo no Brasil, sil, sil.
Nosso destino não seria, portanto, o "Brave New World", devido à nossa absoluta incapacidade de adotar os métodos necessários para a implantação do pavoroso paradigma: seria, antes, uma espécie de Haiti piorado, no qual analfabetos retardados se auto-destroem numa sequência macabra de manobras de absurda ilogicidade, e onde a preguiça e a burrice competem entre si como "causa mais provável" da esculhambação generalizada - sem que seja possível, evidentemente, se chegar a qualquer conclusão a respeito. NUNCA teríamos a disciplina e a ordem mental indispensáveis para que fosse criada aqui a horrenda distopia huxleyana: e a nossa versão dela consistiria em um bando de imbecis sem moral tentando "administrar", via milhares de macacos mal-adestrados, uma paródia de "sistema" caindo aos pedaços.
Em sendo assim, "frustramos o demo" - e as hostes do maligno só conseguem pífios resultados, diante da nossa brutal incompetência.
Eu quero estender esta análise, caro diário - para dela tirar uma tese: a humanidade está se tornando burra, maciçamente estúpida, e é inevitavelmente levada a navegar, cada vez mais, entre centenas de arapucas idiotas e perigos fundamentados pela palermice. O primeiro sintoma da burrice visceral é a incapacidade de ligar causa e efeito, o que torna nulo o conceito de "consequência". Não é que dentro desta imbecilidade "dois mais dois" não sejam "quatro"; é muito pior que isso: é que a IDÉIA de "dois mais dois" simplesmente deixa de existir! Não só "não dá quatro" como não dá rigorosamente porra nenhuma - nem três, nem cinco, e nem quantidade alguma!
Eu sinceramente creio - e é este o tema desta carta de hoje a você - que Antonio Gramsci exatamente não previu esta consequência, quando montou a sua estratégia de domínio das massas pela via da imoralização, ou DES-moralização das referidas massas. Antonio Gramsci não sacou que, ao se anular a consciência, fecha-se, concomitantemente, o acesso a um atributo que fundamenta a cognição humana! E sem o qual esta cognição, esta "intelectuação", DEIXA DE OCORRER! A imoralização das massas está sendo conseguida, claramente conseguida, como Gramsci queria - mas trouxe, atrelada a ela, como "consequência da causa", a completa imbecilização destas mesmas massas!
É extraordinariamente interessante perceber que o "Brave New World", neste caso, é uma impossibilidade metafísica - pela óbvia razão de que um bando de macacos não pode ser treinado para manter um sistema, mesmo que cada macaco seja "responsável" apenas por um pedacinho minúsculo deste sistema! O domínio conseguido pela via da imoralização, da destruição da consciência humana, é uma falácia: o ser que resulta do processo de imoralização não tem capacidade cognitiva suficiente para que exista este domínio, muito menos para que ele "sirva" a algum fim - em outras palavras, a "humanidade" dominada por esta via simplesmente não será humana, não será "humanidade"! E, sem humanos para mantê-lo, entregue a meros primatas, o "sistema" - qualquer que seja ele - acabará por implodir, por se auto-destruir!
Que estupendamente perfeita CHAVE, que fabuloso Mistério a fechar o círculo de forma absoluta!
Onde entra o Brasil nesta página ainda tão mal-alinhavada? Bem, entra como uma espécie de "demonstração visível" de duas coisas: da correção da análise da minha irmã e da minha consequente tese, que eu julgo bastante precisa, e que pretendo posteriormente organizar de maneira mais adequada e menos precária - como você, querido diário, sabe que considero meu dever, minha alegria e meu destino.
Sua sempre sintética, no puro sentido do termo,
Rainha
Minha irmã Giselle diz, e eu concordo, que o Brasil é um país tão estúpido, e criou mecanismos tão grotescos em torno da sua própria estupidez, que NADA - inclusive planos malévolos - pode realmente funcionar por aqui! Quando eu falo das abomináveis intenções do Foro de São Paulo ou dos paradigmas malignos da Nova Ordem Mundial, ela faz um olhar filosófico e diz - "não se preocupe; não vão conseguir fazer nada disso aqui".
Como naquele texto cômico a respeito das desventuras dos dois terroristas da Al Qaeda encarregados de bombardear a estátua do Cristo Redentor, que acabaram num hospital do SUS com um ataque severo de diarréia provocado por uma empadinha contaminada, depois de ter sido surrados por traficantes que os confundiram com membros de uma facção rival, a nossa VISCERAL incompetência e grotesca imbecilidade impedem, segundo ela, que qualquer tipo de ação organizada - boa ou má - possa dar certo no Brasil, sil, sil.
Nosso destino não seria, portanto, o "Brave New World", devido à nossa absoluta incapacidade de adotar os métodos necessários para a implantação do pavoroso paradigma: seria, antes, uma espécie de Haiti piorado, no qual analfabetos retardados se auto-destroem numa sequência macabra de manobras de absurda ilogicidade, e onde a preguiça e a burrice competem entre si como "causa mais provável" da esculhambação generalizada - sem que seja possível, evidentemente, se chegar a qualquer conclusão a respeito. NUNCA teríamos a disciplina e a ordem mental indispensáveis para que fosse criada aqui a horrenda distopia huxleyana: e a nossa versão dela consistiria em um bando de imbecis sem moral tentando "administrar", via milhares de macacos mal-adestrados, uma paródia de "sistema" caindo aos pedaços.
Em sendo assim, "frustramos o demo" - e as hostes do maligno só conseguem pífios resultados, diante da nossa brutal incompetência.
Eu quero estender esta análise, caro diário - para dela tirar uma tese: a humanidade está se tornando burra, maciçamente estúpida, e é inevitavelmente levada a navegar, cada vez mais, entre centenas de arapucas idiotas e perigos fundamentados pela palermice. O primeiro sintoma da burrice visceral é a incapacidade de ligar causa e efeito, o que torna nulo o conceito de "consequência". Não é que dentro desta imbecilidade "dois mais dois" não sejam "quatro"; é muito pior que isso: é que a IDÉIA de "dois mais dois" simplesmente deixa de existir! Não só "não dá quatro" como não dá rigorosamente porra nenhuma - nem três, nem cinco, e nem quantidade alguma!
Eu sinceramente creio - e é este o tema desta carta de hoje a você - que Antonio Gramsci exatamente não previu esta consequência, quando montou a sua estratégia de domínio das massas pela via da imoralização, ou DES-moralização das referidas massas. Antonio Gramsci não sacou que, ao se anular a consciência, fecha-se, concomitantemente, o acesso a um atributo que fundamenta a cognição humana! E sem o qual esta cognição, esta "intelectuação", DEIXA DE OCORRER! A imoralização das massas está sendo conseguida, claramente conseguida, como Gramsci queria - mas trouxe, atrelada a ela, como "consequência da causa", a completa imbecilização destas mesmas massas!
É extraordinariamente interessante perceber que o "Brave New World", neste caso, é uma impossibilidade metafísica - pela óbvia razão de que um bando de macacos não pode ser treinado para manter um sistema, mesmo que cada macaco seja "responsável" apenas por um pedacinho minúsculo deste sistema! O domínio conseguido pela via da imoralização, da destruição da consciência humana, é uma falácia: o ser que resulta do processo de imoralização não tem capacidade cognitiva suficiente para que exista este domínio, muito menos para que ele "sirva" a algum fim - em outras palavras, a "humanidade" dominada por esta via simplesmente não será humana, não será "humanidade"! E, sem humanos para mantê-lo, entregue a meros primatas, o "sistema" - qualquer que seja ele - acabará por implodir, por se auto-destruir!
Que estupendamente perfeita CHAVE, que fabuloso Mistério a fechar o círculo de forma absoluta!
Onde entra o Brasil nesta página ainda tão mal-alinhavada? Bem, entra como uma espécie de "demonstração visível" de duas coisas: da correção da análise da minha irmã e da minha consequente tese, que eu julgo bastante precisa, e que pretendo posteriormente organizar de maneira mais adequada e menos precária - como você, querido diário, sabe que considero meu dever, minha alegria e meu destino.
Sua sempre sintética, no puro sentido do termo,
Rainha
domingo, 7 de novembro de 2010
Sobre o programa "Painel"
Diário,
Ontem, once more, assisti televisão: creio que o programa sobre a Brigitte Bardot me fez esperar que houvesse, quem sabe, mais alguma coisa interessante no panorama da TV paga (no da TV chamada "aberta"eu tenho certeza de que não há NADA, e só com alguma indicação confiável eu entraria lá. Não sem antes providenciar uma antena adequada, é claro - implemento que não possuo), que não fossem documentários sobre leões, cavalos marinhos, tubarões (um favorito dos produtores, por alguma razão que me escapa inteiramente: há DEZENAS deles, e o tubarão me parece um animal sumamente desinteressante, if there ever was one! Uma água-viva tem muito mais potencial!), ursos polares ou insetos peçonhentos, aos quais já assisti todos.
Fui devidamente recompensada pelo programa "Painel" - no qual William Waack, dois ex-embaixadores e um historiador da Unicamp conversavam sobre o panorama econômico mundial. Confesso que, quando tomei conhecimento da presença do historiador da Unicamp, quase troquei de canal - para sorte minha, os outros 153.432 canais restantes exibiam uma bagaça tão estúpida que voltei, e decidi encarar fosse o que fosse que viesse pela proa.
Entenda bem, querido diário: não é que o programa, a conversa EM SI tenha me trazido alguma "novidade": mas, de certa forma, me forneceu um tema para reflexão - como você sabe, uma Rainha Caolha DEVE, é óbvio, ENTENDER, ou pelo menos TENTAR ENTENDER, como funciona a terra de cegos na qual vive.
Nenhum participante disse bobagem alguma, caro diário: todos os comentários foram pertinentes, sensatos, e corretos. Eu GOSTEI disso! Eu APRECIEI muito! O que eu achei interessantíssimo, e por isto registro aqui em você, foi o fato de que a análise correta dos fatos NÃO provocou uma conclusão igualmente correta! Na verdade, querido diário, a análise correta não provocou conclusão NENHUMA: os doutos participantes, que demonstraram ser perfeitamente capazes de enxergar com límpida clareza a situação mundial atual, não tiraram desta análise correta NENHUMA conclusão. A análise nasceu, viveu e morreu sem gerar XONGAS!
É unânime a opinião de que o que "há de novo" é o surgimento da China como potência econômica mundial - e, como acuradamente percebido, esta China está passando rapidamente de potência econômica para potência política, ou seja: está impondo, paulatinamente, um paradigma que não se resume no "ganhar mais dinheiro", e sim inclui o chamado "soft power", que é um modelo COGNITIVO.
UAU! Ponto para os argutos participantes do programa!
Também foi igualmente muito bem notado que a China se ocupa em compor parcerias comerciais, mercados: e que o Brasil, ora vejam só, está com a habitual cara de tacho vendo esses mercados lhe escaparem por entre os dedos - e, a continuar assim, se verá reduzido a fornecedor de commodities para a China: "cumprindo um papel de celeiro", como muito bem disse um dos presentes, não me lembro agora exatamente qual.
Tudo perfeitamente analisado, em suma: e, caro diário, daí nasce - como você certamente já notou - a minha PERPLEXIDADE! Cada vez mais percebo que o paradigma racional PERMITE A ANÁLISE - mas que é o acesso ao Grande Portal que permite a SÍNTESE, a face que completa a cognição humana, e na verdade a torna "HUMANA"!
De que adianta analisar perfeitamente, se daí não sairá NENHUMA conclusão, mesmo as mais ÓBVIAS?! Os doutos senhores, pelo visto, não conseguem entender que não se trata exatamente da China - e sim de um MODELO, o modelo que imporá uma Nova Ordem sobre toda a humanidade!
Levou-se uma hora inteira a explicar minuciosa e corretamente o que é que está acontecendo: e não sobrou nem mesmo um minuto para que se pensasse POR QUE É que tudo isso está acontecendo, e a que tudo isso LEVARÁ! E diga-se de passagem que levará o mundo INTEIRO!
Sim, caro diário: a China age como age, o Brasil age como age, cada um age como age - e os tais senhores não vão querer me dizer que pensam que é "por acaso"- ou será que vão?!
Levaram uma hora inteira, diário, para mostrar que "DOIS" representam "DOIS", e que o sinal de "mais" representa uma "soma"- e, diante do meu pobre queixo caído, NÃO terminaram o processo, e não falaram do tal do "QUATRO"! Oh, diário! Eu não lhes nego o conhecimento e a cultura, que faço questão de elogiar! Eu apenas quero deixar aqui o registro do meu abissal espanto diante desta súbita "PARADA", desta espantosa "inconclusão"dos senhores doutores frente a uma tão clara evidência: o RESULTADO da equação, cuja simplicidade é extrema!
Sob a égide obrigatória do NOBLESSE OBLIGE, eu lhe afirmo, querido diário: celeiro seremos, mas NÃO "por acaso" - NADA, como os senhores doutores parecem não saber, acontece "por acaso"!
Tal idéia é estúpida, e jamais existiu senão como expressão da estupidez humana: aquela cujo limite se perde, cada vez mais, na distância insondável.
Sua fiel,
Rainha
Ontem, once more, assisti televisão: creio que o programa sobre a Brigitte Bardot me fez esperar que houvesse, quem sabe, mais alguma coisa interessante no panorama da TV paga (no da TV chamada "aberta"eu tenho certeza de que não há NADA, e só com alguma indicação confiável eu entraria lá. Não sem antes providenciar uma antena adequada, é claro - implemento que não possuo), que não fossem documentários sobre leões, cavalos marinhos, tubarões (um favorito dos produtores, por alguma razão que me escapa inteiramente: há DEZENAS deles, e o tubarão me parece um animal sumamente desinteressante, if there ever was one! Uma água-viva tem muito mais potencial!), ursos polares ou insetos peçonhentos, aos quais já assisti todos.
Fui devidamente recompensada pelo programa "Painel" - no qual William Waack, dois ex-embaixadores e um historiador da Unicamp conversavam sobre o panorama econômico mundial. Confesso que, quando tomei conhecimento da presença do historiador da Unicamp, quase troquei de canal - para sorte minha, os outros 153.432 canais restantes exibiam uma bagaça tão estúpida que voltei, e decidi encarar fosse o que fosse que viesse pela proa.
Entenda bem, querido diário: não é que o programa, a conversa EM SI tenha me trazido alguma "novidade": mas, de certa forma, me forneceu um tema para reflexão - como você sabe, uma Rainha Caolha DEVE, é óbvio, ENTENDER, ou pelo menos TENTAR ENTENDER, como funciona a terra de cegos na qual vive.
Nenhum participante disse bobagem alguma, caro diário: todos os comentários foram pertinentes, sensatos, e corretos. Eu GOSTEI disso! Eu APRECIEI muito! O que eu achei interessantíssimo, e por isto registro aqui em você, foi o fato de que a análise correta dos fatos NÃO provocou uma conclusão igualmente correta! Na verdade, querido diário, a análise correta não provocou conclusão NENHUMA: os doutos participantes, que demonstraram ser perfeitamente capazes de enxergar com límpida clareza a situação mundial atual, não tiraram desta análise correta NENHUMA conclusão. A análise nasceu, viveu e morreu sem gerar XONGAS!
É unânime a opinião de que o que "há de novo" é o surgimento da China como potência econômica mundial - e, como acuradamente percebido, esta China está passando rapidamente de potência econômica para potência política, ou seja: está impondo, paulatinamente, um paradigma que não se resume no "ganhar mais dinheiro", e sim inclui o chamado "soft power", que é um modelo COGNITIVO.
UAU! Ponto para os argutos participantes do programa!
Também foi igualmente muito bem notado que a China se ocupa em compor parcerias comerciais, mercados: e que o Brasil, ora vejam só, está com a habitual cara de tacho vendo esses mercados lhe escaparem por entre os dedos - e, a continuar assim, se verá reduzido a fornecedor de commodities para a China: "cumprindo um papel de celeiro", como muito bem disse um dos presentes, não me lembro agora exatamente qual.
Tudo perfeitamente analisado, em suma: e, caro diário, daí nasce - como você certamente já notou - a minha PERPLEXIDADE! Cada vez mais percebo que o paradigma racional PERMITE A ANÁLISE - mas que é o acesso ao Grande Portal que permite a SÍNTESE, a face que completa a cognição humana, e na verdade a torna "HUMANA"!
De que adianta analisar perfeitamente, se daí não sairá NENHUMA conclusão, mesmo as mais ÓBVIAS?! Os doutos senhores, pelo visto, não conseguem entender que não se trata exatamente da China - e sim de um MODELO, o modelo que imporá uma Nova Ordem sobre toda a humanidade!
Levou-se uma hora inteira a explicar minuciosa e corretamente o que é que está acontecendo: e não sobrou nem mesmo um minuto para que se pensasse POR QUE É que tudo isso está acontecendo, e a que tudo isso LEVARÁ! E diga-se de passagem que levará o mundo INTEIRO!
Sim, caro diário: a China age como age, o Brasil age como age, cada um age como age - e os tais senhores não vão querer me dizer que pensam que é "por acaso"- ou será que vão?!
Levaram uma hora inteira, diário, para mostrar que "DOIS" representam "DOIS", e que o sinal de "mais" representa uma "soma"- e, diante do meu pobre queixo caído, NÃO terminaram o processo, e não falaram do tal do "QUATRO"! Oh, diário! Eu não lhes nego o conhecimento e a cultura, que faço questão de elogiar! Eu apenas quero deixar aqui o registro do meu abissal espanto diante desta súbita "PARADA", desta espantosa "inconclusão"dos senhores doutores frente a uma tão clara evidência: o RESULTADO da equação, cuja simplicidade é extrema!
Sob a égide obrigatória do NOBLESSE OBLIGE, eu lhe afirmo, querido diário: celeiro seremos, mas NÃO "por acaso" - NADA, como os senhores doutores parecem não saber, acontece "por acaso"!
Tal idéia é estúpida, e jamais existiu senão como expressão da estupidez humana: aquela cujo limite se perde, cada vez mais, na distância insondável.
Sua fiel,
Rainha
sábado, 6 de novembro de 2010
Madame Bardot
Diário,
O canal pago GNT exibiu ontem à noite um documentário sobre Brigitte Bardot, que já faz muito tempo é ativista política e conhecida lutadora contra as malvadezas e crueldades para com os animais que a humanidade reiteradamente comete.
Eça de Queirós escreveu um conto sobre um eremita que, vivendo uma vida de penitência, solidão e sacrifício, um belo dia fica sabendo que um seu companheiro está morrendo à míngua. Para ajudar este companheiro, o eremita arranca de um leitãozinho que cruza seu caminho o suculento pernil, que leva ao amigo para que ele recupere as forças. Quando finalmente o santo homem morre, e vai ser julgado diante do Criador, num dos pratos da divina balança um anjo coloca seus bons atos, seus sacrifícios, seu isolamento na busca da comunicação com o Transcendente, suas orações e exortações. Toda a corte celeste se maravilha, vendo o prato do Bem Praticado pesar cada vez mais, levando o eremita na direção do Paraíso - e todos já comemoram o evento quando, num gesto final, o anjo coloca no outro prato da balança uma única coisa: um porquinho agonizando numa poça de sangue. Para horror de todos, AQUELE prato pesa MAIS do que o que contém todos os bons atos praticados, e o eremita se despenha nas profundezas do inferno.
Entre as mocréias de cara alisada e cotovelos pendentes, Madame Bardot, com seu gauloise aceso, suas muletas, seu rugalhal, sua pequena imagem de la Sainte Vierge levada no bolso do casaco, se destaca como um monumento a uma dimensão humana que rarissimamente se vê, sobretudo entre suas contemporâneas de beleza e fama - que me dão a impressão de que se alguém apertá-las vão APITAR, como aqueles bichinhos de borracha feitos para bebês ou cachorrinhos - e que passam a vida na busca desatinada de parceiros cada vez mais jovens.
Madame explica que por metade da vida teve que parecer bonita sempre, atraente sempre, gostosíssima sempre; e ainda por cima precisava lidar com uma confusão de maridos, e amantes, e namorados: e cansou! Com um senso de humor ao mesmo tempo irônico e alegre, ela comenta - "eu tinha que ser linda todos os dias, e hoje sou feia todos os dias: estou recuperando o tempo perdido!"
Pesquisando mais tarde na Internet, verifico que Madame Bardot é coerente e é corajosa, diz na cara de todo mundo verdades julgadas inconvenientes pelo "politicamente correto" - e que, por causa de seus candentes e honestos desaforos, Madame vem colecionando processos nas cortes francesas! Durante o programa, ela diz que sabe perfeitamente que há, neste mundo, grupos de pessoas como ela, e que esses grupos e essas pessoas não conhecem uns aos outros: e é desses que ela gosta, com eles simpatiza, sem precisar conhecê-los de perto.
Que fique aqui então, diário, esta petite homage a Mme. Brigitte Bardot, por sua sinceridade e por sua aflição diante da insensibilidade e da crueldade dos homens para com a criação indefesa! MOI AUSSI me compadeço deles, moi aussi empatizo inteiramente com ela e sua completa falta de "papas na língua", seus olhos aflitos pela matança a pauladas dos bebês-foca, sua ira incontida diante dos homens que arrancam as unhas dos ursos para fazer com elas um remédio que os chineses acreditam ser eficaz contra a impotência! "MERDE, allors", diz Brigitte - e digo eu! Que se danem os chineses e sua impotência!
E deixo ainda este bilhetinho a Madame Bardot:
Chère amie, um grande poeta brasileiro chamado Manuel Bandeira escreveu um lindo poema no qual São Pedro, diante da boa Irene que lhe pede licença para entrar no céu, responde com alegre simplicidade: "Entra, Irene! Você não precisa pedir licença..." -
Pegando carona na bela poesia deste formidável poeta, eu lhe afirmo que o guardião do Grande Portal também receberá você com a mesma alegria, saudando: "Soyez la bienvenue, Madame!"
Sua solidária, mas não solitária,
Rainha
O canal pago GNT exibiu ontem à noite um documentário sobre Brigitte Bardot, que já faz muito tempo é ativista política e conhecida lutadora contra as malvadezas e crueldades para com os animais que a humanidade reiteradamente comete.
Eça de Queirós escreveu um conto sobre um eremita que, vivendo uma vida de penitência, solidão e sacrifício, um belo dia fica sabendo que um seu companheiro está morrendo à míngua. Para ajudar este companheiro, o eremita arranca de um leitãozinho que cruza seu caminho o suculento pernil, que leva ao amigo para que ele recupere as forças. Quando finalmente o santo homem morre, e vai ser julgado diante do Criador, num dos pratos da divina balança um anjo coloca seus bons atos, seus sacrifícios, seu isolamento na busca da comunicação com o Transcendente, suas orações e exortações. Toda a corte celeste se maravilha, vendo o prato do Bem Praticado pesar cada vez mais, levando o eremita na direção do Paraíso - e todos já comemoram o evento quando, num gesto final, o anjo coloca no outro prato da balança uma única coisa: um porquinho agonizando numa poça de sangue. Para horror de todos, AQUELE prato pesa MAIS do que o que contém todos os bons atos praticados, e o eremita se despenha nas profundezas do inferno.
Entre as mocréias de cara alisada e cotovelos pendentes, Madame Bardot, com seu gauloise aceso, suas muletas, seu rugalhal, sua pequena imagem de la Sainte Vierge levada no bolso do casaco, se destaca como um monumento a uma dimensão humana que rarissimamente se vê, sobretudo entre suas contemporâneas de beleza e fama - que me dão a impressão de que se alguém apertá-las vão APITAR, como aqueles bichinhos de borracha feitos para bebês ou cachorrinhos - e que passam a vida na busca desatinada de parceiros cada vez mais jovens.
Madame explica que por metade da vida teve que parecer bonita sempre, atraente sempre, gostosíssima sempre; e ainda por cima precisava lidar com uma confusão de maridos, e amantes, e namorados: e cansou! Com um senso de humor ao mesmo tempo irônico e alegre, ela comenta - "eu tinha que ser linda todos os dias, e hoje sou feia todos os dias: estou recuperando o tempo perdido!"
Pesquisando mais tarde na Internet, verifico que Madame Bardot é coerente e é corajosa, diz na cara de todo mundo verdades julgadas inconvenientes pelo "politicamente correto" - e que, por causa de seus candentes e honestos desaforos, Madame vem colecionando processos nas cortes francesas! Durante o programa, ela diz que sabe perfeitamente que há, neste mundo, grupos de pessoas como ela, e que esses grupos e essas pessoas não conhecem uns aos outros: e é desses que ela gosta, com eles simpatiza, sem precisar conhecê-los de perto.
Que fique aqui então, diário, esta petite homage a Mme. Brigitte Bardot, por sua sinceridade e por sua aflição diante da insensibilidade e da crueldade dos homens para com a criação indefesa! MOI AUSSI me compadeço deles, moi aussi empatizo inteiramente com ela e sua completa falta de "papas na língua", seus olhos aflitos pela matança a pauladas dos bebês-foca, sua ira incontida diante dos homens que arrancam as unhas dos ursos para fazer com elas um remédio que os chineses acreditam ser eficaz contra a impotência! "MERDE, allors", diz Brigitte - e digo eu! Que se danem os chineses e sua impotência!
E deixo ainda este bilhetinho a Madame Bardot:
Chère amie, um grande poeta brasileiro chamado Manuel Bandeira escreveu um lindo poema no qual São Pedro, diante da boa Irene que lhe pede licença para entrar no céu, responde com alegre simplicidade: "Entra, Irene! Você não precisa pedir licença..." -
Pegando carona na bela poesia deste formidável poeta, eu lhe afirmo que o guardião do Grande Portal também receberá você com a mesma alegria, saudando: "Soyez la bienvenue, Madame!"
Sua solidária, mas não solitária,
Rainha
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