SED TANTUM DIC VERBUM...

...ET SANABITUR ANIMA MEA.

sábado, 21 de maio de 2011

Aechje Claesdr, segundo Rembrandt van Rijn

Querido Diário,

Imagino que muito poucas pessoas na história humana tenham tido um estudo tão perfeito sobre a sua existência terrena quanto Aechje Claesdr - retratada pelo genio de Rembrandt van Rijn. Que pintor! Que retrato! Que modelo!
Passei hoje umas duas horas ou mais olhando esta obra de genio, graças à simpatia e competência da National Gallery de Londres, que disponibiliza seus quadros com um zoom tão espetacular que podemos ver as mínimas pinceladas do grande mestre. E é mesmo algo de se ver: dias, semanas, anos, a vida inteira não seriam suficientes para esgotar a minha admiração diante de tamanha maravilha.

Aeschje era idosa quando o pincel e as tintas de Rembrandt a revelaram tão magistralmente, em 1634 - quando ele tinha vinte e oito anos e ela o inverso: oitenta e dois. E jamais a mão de um artista tocou tão delicadamente um rosto, criando um conjunto tão absolutamente perfeito: a mão do jovem pintor cria o rosto envelhecido com toda a vida  nele contida. Uma certa amargura, um certo cansaço, uma certa fragilidade:  Dame Aechje viu tudo, passou por tudo, fez o que podia e devia, e agora lá está, posando para aquele jovem pintor...  Ela não o olha, pois posar para um retrato lhe parece uma vaidade inteiramente supérflua, desnecessária, tola. àquela altura de sua vida. Ela poderia estar fazendo outra coisa e está ali, sentada, sem fazer nada. Por isto, por esta inatividade forçada para um propósito que ela sente como vagamente absurdo,  seu pensamento divaga, e ela se perde entre suas lembranças.
Mal desconfia Dame Aechje que o pincel toca cada lembrança, a recolhe e a leva para a tela, ocultando-a sob uma tênue, mas mágica, camada de cor: e por isso nós ficamos sabendo, trezentos e setenta e sete anos depois, que Dame Aechje, como todos os velhos, pensa em seus mortos. Ela não olha para o jovem Rembrandt   porque olha outros rostos, de outros tempos - e não sabe que Rembrandt  também os está retratando, enquanto retrata a ela.
Os grandes mestres da Idade Áurea da pintura flamenga foram todos excelsos, mas nenhum chegou a ser como este, o maior de todos, o mestre dos mestres! Chamam-no de "o homem que pintou a luz" - mas, mais do que isto, ele pintou almas, pensamentos, lembranças - pintou, Diário, literalmente o "impintável". Retratou o irretratável, e em cada quadro pintou outros quadros subjacentes e suprajacentes. À medida em que olhamos, outras realidades aparecem, frutos do mesmo gênio nunca antes nem depois igualado na arte da pintura. Estão todas ali, na tela, essas  realidades transparentes sobrepostas.

Uma bela tarde esta, querido Diário! Fiquei pensando no genio humano e  comparando suas expressões com os patéticos exemplos da modernidade... Mas isto fica para outra página: NESTA, que a pura beleza criada por um mestre imortal brilhe sozinha e luminosa, e que Rembrandt Harmenszoon van Rijn e sua arte perfeita sejam para sempre celebrados entre os homens.
Sua deslumbrada,
Rainha
PS: o link para Dame Aechje e o inigualável talento de Rembrandt:
http://www.nationalgallery.org.uk/server.php?change=ZoomTool&contentType=ConMediaFile&contentId=5897&z=1&x=189&y=0

terça-feira, 19 de abril de 2011

A doença mental como instrumento

Querido diário,

A horrenda praga do “politicamente correto” tenta há décadas – com sucesso – inverter a realidade e transformar todo tipo de canalha, bandido e monstro em “vítima do sistema perverso”, a.k.a. “a sociedade malvada”.  Ao transferir a evidente culpa dos canalhas, bandidos e monstros para uma abstração como “a sociedade malvada”, o que os imbecis e malévolos do politicamente correto conseguiram foi a escalada brutal da imoralidade e da violência, da impunidade e da injustiça: é este o panorama tétrico com o qual todos nós convivemos atualmente no Brasil.

O criminoso tornou-se a  vítima e a vítima tornou-se o criminoso – este paradigma sinistro não poderia ter resultado senão na presente falência moral – não só do Brasil mas do mundo inteiro. Todo cidadão de bem sabe disto: nós, os que resistimos à invasão desta malévola estupidez chamada “politicamente correto” e ao “coitadismo”aplicado aos marginais, por mais hediondos que sejam, sabemos.

Quero falar agora, diário, sobre uma segunda conseqüência, mais sutil e igualmente perversa, que também resulta da mesma inversão imoral: nesta confusão, em que se misturam culpados e vítimas, acabaram sendo abolidos e anulados conceitos que na verdade teriam que ter sido mantidos, porque são verdadeiros e corretos. Na  reação, extremamente necessária e justa, à transformação de culpados em vítimas, está indo de cambulhada uma categoria de pessoas que é extremamente real: o doente mental grave. Aquele que não é nem culpado e nem vítima – e que, por não caber nem no horrendo modelo do politicamente correto e nem no modelo dos que reagem ao politicamente correto - me parece que foi exilado para uma espécie de invisibilidade. O doente mental grave teve a sua existência “anulada”. E isto é muito útil para os “dirigentes”.

A doença mental grave, além de obviamente existir, é algo dilacerante, tanto para seu portador quanto para os que o cercam. Os “politicamente corretos” lhes negam um tratamento decente, por categorizar  uma eventual internação, obrigatória em certos casos e em determinadas circunstâncias, de “cruel”: numa atitude típica! Aproveitando o pretexto de que os hospitais nos quais este tratamento era oferecido estavam caindo aos pedaços - como tudo o que se refere a “saúde pública” está, na Banânia da corja - a referida caterva, ao invés de recuperar esses hospitais  e torná-los aptos a oferecer um tratamento adequado, decidiu  simplesmente acabar com eles, sob o pretexto de que “eram muito ruins”.

 Num “passe de mágica” de máxima irresponsabilidade, a caterva “resolveu o problema” dos manicômios sucateados e precários: abracadabra, não existem mais esses lugares  caindo aos pedaços, imundos e sem condições, nos quais os pacientes mentais graves eram internados! Os “coitadinhos”estão livres!

Acabaram com os hospitais e com os leitos – e não botaram nada no lugar. Resolveu-se a questão jogando os doentes mentais graves no meio da rua, com um tapinha nas costas e um aviso implícito a eles e a suas famílias: “Virem-se”. E os politicamente corretos saíram aos pulinhos, se congratulando entre si por ter resolvido tão facilmente o problema.

Obedecendo ao modelo sutilmente imposto pelos “dirigentes”.

Se alguém ler o PNDH-3, verá o quanto esta calamidade se estenderá ainda mais.
Quem ler verá, por trás da irresponsabilidade politicamente correta, a AÇÃO POLÍTICA da corja esquerdista, endossada e executada pelos imbecis do “politicamente correto”.

A terrível catástrofe do massacre em Realengo mostra o horror da situação: diante de tamanha tragédia, praticamente ninguém se lembrou de acusar os irresponsáveis e os canalhas da corja e de mostrar a toda a população, com a retidão e a severidade necessárias, que ali estava uma conseqüência direta da ação dos malévolos que liquidaram com a possibilidade tanto do tratamento adequado quanto do eventualmente necessário isolamento do doente mental grave –  sobretudo do  pobre, é claro: do que depende do SUS. Para pelo menos tentar evitar, através desta acusação legítima,  que outros venham a ser, como este foi, agentes de tragédias que brutalizam a sociedade indefesa – e  brutalizam igualmente eles mesmos, indefesos diante da patologia que os assola.

O paciente mental grave é óbvia presa de toda a violência que nos circunda, e diante da qual ele é como uma folha na ventania. No vazio de arbítrio que a doença provoca, outros fatores e/ou pessoas entram para impor ao doente mental grave a escolha da qual ele é incapaz: e, direta ou indiretamente, de perto ou de longe, o transformam em agente do mal e do terror. 

Muito conveniente para os que dirigem esse tipo de cooptação, não é mesmo, diário?

E, depois da tragédia acontecida, percebi que as pessoas se dividiram em dois grupos, conforme pensassem que o doente mental grave era pessoalmente vítima ou culpado – quando ele não foi nem uma coisa e nem outra, em termos pessoais: foi um doente mental grave, e como tal deveria ter sido visto, deveria ter sido tratado, e deveria ter sido isolado quando necessário.

Não foram feitos nem este tratamento e nem muito menos este isolamento: que, pelo menos, não se anule a verdadeira condição à qual foi relegado o doente mental grave, importante sobretudo quando ele, além de doente, é pobre.

Que ele seja percebido como quem realmente é, e que outros além de mim reflitam sobre a sua atual e terrível condição: que não se resolve pela negação da existência real da doença mental grave e do horror que ela encerra em si – isto apenas mantém na invisibilidade algo que nos ameaça a todos, e favorece aos que cooptam essas criaturas seriamente doentes para transformá-las em agentes do mal.

 POR QUE você acha que faz parte da carta de intenções da corja esquerdista – carta conhecida por “PNDH-3”, como você sabe -  a extinção do tratamento adequado para esses doentes mentais graves, e o fim dos leitos reservados a eles na rede pública de saúde?

Eis aí, meu querido diário, o X DO PROBLEMA!

Sua indignada, e sempre atenta às manipulações maquiavélicas da corja,

Rainha

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Comentários Marginais e Considerações sobre o Orangal - I

Querido diário,


A horda de imbecis começa a esquecer, como esperado, as causas - e os efeitos - da recente "tragédia das chuvas"", que deve ser no mínimo a centésima a merecer este nome. Os orangos, como você sabe, DETESTAM a VERDADE: aliás, detestam qualquer coisa associada a ela. Os orangos são perfeitamente capazes de lutar pela paz, pela justiça social, pela pela regulamentação de profissões como prostituta e cafetão,  pela sua idéia de tolerância, pela educação sexual no jardim-de-infância - enfim, lutam, e lutam ferozmente, por literalmente qualquer coisa: MENOS, é claro, por algo que remotamente tenha a ver com a VERDADE. 


Que, é claro, eles "não sabem o que é" - mais que isso: NEGAM que exista.


Jesus Cristo, ao que me consta, nunca disse "Eu sou o Caminho, a Tolerância e a Vida", e nem "Eu sou o Caminho, a Boa-Vontade e a Vida", ou nem mesmo "Eu sou o Caminho, o Paz e a Vida'" . DISSE, isto sim, "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".


É evidente,é explícito, que todas as virtudes - como a tolerância, a boa-vontade e o desejo de paz - DEVEM, por ordem divina, estar hierarquicamente submetidas, estar contidas, no grande âmbito da VERDADE! 


O orangal, querido amigo, ignora completamente  esta hierarquia, mesmo tendo ela sido claramente indicada. O orangal luta para submeter a Verdade - a INSUBMISSÍVEL - a essas outras coisas. Que só são realmente virtudes, só têm este caráter virtuoso, SE submissas à Verdade: caso contrário, são uma bagaça idiota que não serve para nada.


E, diário amigo,  por recusar terminantemente todas as "tolerâncias", todas as  "pazes" e todas as "boas-vontades" que me são oferecidas fora do âmbito da minha amada Verdade, eu sou, é evidente, catalogada como "intolerante", "anti-paz" e cheia de "má-vontade".  Como outros, é claro! 


Bem: o orangal, então, persiste na sua marcha, sempre levantando a bandeira dessas insubmissões e desses erros, na busca cega por um treco que eles chamam de "paz", outro que chamam de "boa-vontade", e ainda outro que chamam de "tolerância"- sendo que nenhuma dessas coisas tem qualquer parentesco com os nomes que carregam, uma vez que a legitimidade desses nobres nomes só poderia existir se HOUVESSE a submissão desses conceitos à VERDADE, que é superior a todas elas.


Talvez por isso os orangos acabem mesmo por gastar grande parte do seu tempo em se preocupar com a roupa que usarão no desempenho de suas funções imbecis a serviço dessas falsidades todas - das quais, como me ensinaram desde criança, o inferno está cheio.


Sua sempre verdadeira por amor à Verdade, e insubmissa como ela,


Rainha

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Palermas esperançosos

Querido Diário,


Quando estava rolando a campanha presidencial no ano passado,  99% das pessoas que eu conheço pareciam pensar o mesmo que eu: que a mocoronga comunista, guerrilheira, terrorista, ladra, sequestradora e assassina chamada Dilma Rousseff, se eleita fosse, representaria mais um passo dado pelo país e sua população no rumo do completo caos. Ninguém, rigorosamente ninguém, da minha lista de amigos e conhecidos discordava disso: e, assim como eu, todo mundo se ocupava em divulgar ao máximo todo o cinismo, todas as mentiras, toda a tapeação e toda a canalhice que  eram parte integrante da campanha da referida mocoronga, comunista, guerrilheira, etc.


Pois muito bem: inacreditável como possa parecer, caro diário, a partir da infeliz eleição da dita cuja ladra, sequestradora, assassina, etc, as mesmas pessoas, tomadas de um súbito ataque de demência e imoralidade, começaram a "desejar sorte"para a referida terrorista mocoronga!!!!! É algo realmente incrível, este fenômeno! Se eu achasse que o que tinha contra a mencionada criatura era questão de "sorte" - coisa na qual, como já amplamente divulgado, eu nunca acreditei - eu não teria, evidentemente, chamado a vilíssima oranga de terrorista, ou de guerrilheira, ou de ladra, ou de comunista! Se chamei, é - obviamente - porque ela é todas essas coisas! E se ela é todas essas coisas, como pode ser cabível esta "esperança" absurda?


I mean, QUE GENTE É ESSA, que junto comigo acusou Dilma de ser o que é, e agora manda as acusações para a casa do cacete, como se elas não tivessem existido? Quer dizer então que as pessoas "esperam" que uma terrorista assassina, sequestradora e ladra, conforme elas mesmas, junto comigo, a acusaram de ser - de repente "faça um bom governo"? E, se tal esperança é sincera e honesta, como então a acusaram lá atrás de ser quem é?


Há uma incongruência tamanha entre a oposição feita na campanha e os atuais "bons votos" que eu estou boquiaberta há uma semana! Que coisa, caramba! Pelas minhas contas, antes que março comece eu temo que terei definido como retardado e/ou hipócrita praticamente todo mundo que eu conheço!


Eis aí, aberto como um livro aberto, explícito como uma cena de pornografia explícita, exposto aos olhos de quem quiser ver, o mal do Brasil: o absoluto, o completo, o total desvínculo com a realidade. Creio honestamente que em nenhum outro lugar do mundo, em nenhuma outra população do mundo, este desvínculo existe com a contundência brutal com que existe aqui: os brasileiros, mesmo os melhores, simplesmente anulam a realidade com espantosa facilidade e a substituem por "impressões", por "esperanças", por sei lá que cenário estapafúrdio inventado que nem de longe tem qualquer nexo de sentido ou ligação com o mundo real. A presteza com que as pessoas caem nas tapeações é tamanha que eu nem sei, diário, se posso falar em "tapeação" -  porque tapeação exige  a participação ativa de um tapeador, um certo trabalho de convencimento:  e o que eu vejo aqui é que aqui este trabalho é supérfluo; as pessoas se tapeiam elas mesmas, sozinhas, sem que haja necessidade da ação de mais ninguém!!!


Épatant, amazing, estarrecedor: de uma hora para outra, o país dos lesadinhos se esqueceu de TUDO o que representa a eleição da terrorista petralha, a gerentona do Foro de São Paulo - e passaram todos a "esperar", com os olhos úmidos e um sorriso abestalhado nas fuças, que "ela faça um bom governo"! Pode uma coisa dessas, diário? 


Denis Rosenfield compara a política da "distribuição de cargos" à qual assistimos a um ato de pornografia  ofensivo a qualquer ser humano normal; eu diria que é até mais do que isto, é um assalto feito desavergonhadamente, despudoradamente, dentro dos piores padrões das gangues de bandidos;  mesmo assim, os brasileiros seguem pensando nos "dias melhores" que virão! Em matéria de estupidez apalermada, somos campeões mundiais. Hors concours, diário amigo. 


Bom, enfim. Que Deus se apiade de todos, inclusive desta sua irritadíssima


Rainha

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Noite Silenciosa

Querido Diário,


Vivemos num mundo estridente e dissonante, onde a nossa inepta orquestração, cada vez mais tumultuada, nos afasta  daquilo que deveria ser mais natural em nós, e que é a aproximação com o Transcendente. Sinceramente, se há um instrumento que o demo usa eficazmente,  com certeza é o barulho! Como berram na televisão, diário amigo! Como gritam nos shoppings, nos celulares, nos cinemas, nos espetáculos, nas ruas! Todo tipo de artefato imaginável é inventado para despejar decibéis diretamente nos ouvidos dos seus proprietários - artefatos que inevitavelmente vazam e atingem a todos, criando uma monumental e incessante cacofonia.   


Quanto mais eu penso nisto, mais certeza tenho de que os magos vindos do oriente andaram silenciosamente, perdidos em seus pensamentos, no seu caminho sob o céu  estrelado e luminoso na direção de Belém e do Grande Mistério. Todo o universo deve ter alterado a sua face, naquela noite longínqua e eternizada - e as nossas celebrações deveriam também repetir, por um momento que fosse, o nosso assombro mudo diante do Deus Feito Homem. Pelo menos em cada noite de Natal.

Imagino que o que mais agradaria ao Deus  recém-nascido seria exatamente este majestoso silêncio, no qual toda a criação consciente se prostrasse diante do véu deste Perfeito Mistério - cuja perfeição e incompreensibilidade são  justamente a nossa maior proteção e maior dádiva. 

Assim, diário amigo, me compraz imaginar esta noite solene, plena de profundidade, na qual as galáxias giram silenciosamente em torno de uma Criança ao mesmo tempo divina e humana, o incomensurável Presente dado a toda a humanidade. Deveríamos todos ser  "o quarto mago", e caminhar com os outros, mais sábios, pela mesma trilha - seguindo a estrela  luminosa e calma na noite mágica. Nossos pés mal tocariam o chão, e as coisas todas do universo teriam seu verdadeiro sentido subitamente revelado e nítido: mesmo que depois esquecêssemos esta  Revelação, pelo tempo e pelo espaço desta noite ela teria sido compreendida por nós, e nos transformaria para sempre. Saberíamos que o sopro divino nos sustenta,  reconheceríamos quem somos, verdadeiramente - e em vez de folhas rodando num torvelinho, voltaríamos a ser como  pássaros que voam segundo um propósito.

Eu preciso deste silêncio, querido diário - e eu o tenho,  imenso e puro como uma abóbada de cristal.

Que todos também tenham a sua Noite Silenciosa neste Natal  são os votos da sua - sempre enlevada diante do Mistério contido nele -

Rainha







domingo, 14 de novembro de 2010

O Codex Voynich

Diário querido,


Hoje eu pensava em deixar registrada nesta página uma lista das coisas tremendas que andam acontecendo por aqui, todas terríveis! Vamos mal, diário - vamos pessimamente! A tal da "escalada da violência"chega  a alturas cada vez maiores: agora, os bandidos se ocupam não mais em roubar carros, mas em incendiar carros! Jogam gasolina e tacam fogo! Imagine-se o pavor das pessoas, na antiga São Sebastião do Rio de Janeiro, hoje transformada em aterrorizante Babel sob o domínio do tráfico! Me contaram que os bandidos estariam "se vingando" do fato de terem sido expulsos para paragens mais distantes - já que a polícia, segundo também me informam, ocupou os morros de frente para o mar da zona sul! Eu não pretendo mais pisar lá, naquela que foi a minha amada cidade por tantos anos: e creio que nunca mais verei o verde da floresta em volta da casa do Alto, a não ser com os olhos da memória... Nem os macaquinhos da dona Norma, se é que ainda existem! Adeus Lagoa, adeus praias, adeus aterro do Flamengo, Urca, Cristo Redentor e Pão-deAçúcar! Adeus Guanabara, que vai morar na minha lembrança ainda com o reflexo do anúncio da Salutáris, e a garrafa que derramava luz nas águas da baía em cintilantes tracinhos! 


Bem, caro diário - como eu disse, esta ERA a idéia: uma espécie de ode à cidade perdida, ao país perdido para os orangos estúpidos que  destroem tudo sem a menor piedade. Mas não é o que farei, afinal: a lista era tão grande, as coisas a dizer tão amargas, que eu desanimei e resolvi deixar para outro dia menos melancólico do que este domingo cinzento. Hoje eu falarei do chamado Codex Voynich, um manuscrito medieval que há alguns meses ocupa parte importante da minha curiosidade, e cujos desenhos venho copiando laboriosamente, sem ter dado um único passo na direção de entender o que vem a ser aquele fascinante mistério!


A história é a seguinte, em resumo: no começo do século XX, um livreiro alemão especializado em vender raridades bibliográficas para milionários e aristocratas viajou para uma daquelas encantadoras cidadezinhas italianas, onde velhos monges de um velho mosteiro haviam posto à venda sua mais velha ainda biblioteca. Uma triste realidade, diário: os antigos pergaminhos, tão custosamente reunidos, e a tão duras penas conservados juntos, seriam separados, para passar a fazer parte de coleções esparsas, talvez para que um ricaço entediado mostrasse a seus contemporâneos mais um símbolo de status. Bom, enfim, caro diário, este é o destino das coisas, sei muito bem! E foi melhor assim, no caso - uma vez que  depois viriam duas guerras mundiais, e talvez o velho mosteiro e sua bela biblioteca fossem destruídos pela sanha ou pela ignorância dos combatentes. O fato é que o livreiro alemão, depois de ter avaliado competentemente os lotes à venda e separado os que lhe interessavam (já na certa pensando nos possíveis compradores para aqueles tesouros), num último gesto, quase como um afterthought, passou a mão num pequenino opúsculo ilustrado, escrito em caracteres que ele não conhecia, e que, como ele mesmo afirmou mais tarde, escolheu apenas "por causa das ilustrações". Que, embora não tivessem o rico e detalhado aspecto das iluminuras medievais com as quais o livreiro estava acostumado, possuíam uma certa qualidade artística que prendeu a sua atenção. Eu diria, caro diário,  que o livrinho mais ou menos obrigou o livreiro a levá-lo junto com os outros tesouros!


Bem, avante. O nome do livreiro, como você certamente já sacou, era Herr Voynich - e aquele manuscrito ficou, portanto, conhecido como o "Codex Voynich". Herr Voynich, além de alemão, era judeu - e suficientemente inteligente e rico para ter percebido, anos depois, que boa coisa não viria para os judeus da Europa por parte de Adolf Hitler e  de Joseph Stalin: e mudou-se, é claro, para a América - acompanhado, pois tomou esta providência a tempo, de sua coleção de livros raros. Folgo em dizer que Herr Voynich se estabeleceu tranquilamente em Nova Iorque e  logo estava muito bem, obrigado, com toda a sua família, uma loja no Upper East Side, seus belos livros a salvo e uma carteira de clientes invejável - e, até então, ninguém havia se interessado em comprar o Codex: e eu adivinho que Herr Voynich tinha um afeto especial pelo livrinho misterioso, seus desenhos intrigantes e seus textos escritos em caracteres desconhecidos. 


To make a long story short, o fato é que nenhum dos experts em linguística conseguiu descobrir a qual língua, viva ou morta, pertenciam os tais caracteres - e a coisa foi tomando uma proporção tamanha que começaram a aparecer diversos desses doutos senhores para se oferecer, espontaneamente, para decifrar aquilo! E nenhum conseguiu! Para justificar esta  impossibilidade, naturalmente passou-se a pensar que o texto era codificado, e portanto um caso não para os experts em linguística, apenas: mas para uma ação conjunta deles e de experts em criptografia. A segunda guerra havia trazido um considerável progresso para a ciência criptológica, e logo também apareceram pessoas abalizadas nesta área se propondo a desmantelar o segredo do manuscrito; li que um desses especialistas, depois de uma olhadela perfunctória, afirmou que "em dois dias quebraria o código". 


Mas NÃO quebrou, é claro! O Códex Voynich permaneceu impermeável a todas as tentativas feitas - e desde então  técnicos da NASA, arqueólogos do mundo inteiro, palpiteiros, tutti quanti, têm se revezado no trabalho de entender o que está escrito ali. Submeteram os textos aos computadores mais bem programados para este tipo de tarefa - e NADA! A frequência dos caracteres e  a extensão dos vocábulos indica uma "linguagem natural"- e eu ouso dizer que o cursivo em que o texto foi escrito indica mais ainda a  naturalidade espontânea, a "fluência gráfica" de quem está escrevendo sem o menor esforço e sem a menor contrafação. E mais: eu tenho certeza de que TODO o texto foi escrito pela mesma mão, embora em mais de uma ocasião. E a MESMA pessoa também fez as ilustrações. 


Eu sei disso pelo fato absolutamente SIMPLES de ter feito o mesmo tipo de coisa centenas de vezes - desenhado uma coisa qualquer e depois ter escrito à volta, ou mesmo dentro, dos limites do desenho! Sem exatamente "programar", mas fazendo isto como um processo absolutamente natural, e é claro que intencional. 


Há páginas sem desenho nenhum, só com texto - assim como há algumas  com desenhos e legendas curtas, ou somente com desenhos. O livro se divide em quatro partes: a primeira trata de plantas, de esboços de plantas, completas com seus sistemas radiculares, caules, folhas e flores; a segunda parte mostra  adoráveis ninfas - sempre mulheres - nuas e singelamente desenhadas, perambulando por sistemas de tubos e válvulas - que a mim parecem ser sistemas vegetais, não animais. A terceira parte é cosmológica, cheia de estrelas e mandalas zodiacais, no centro das quais aparecem representações dos signos conhecidos, como o Carneiro, o Leão e o Arqueiro. E a última parte me parece um receituário, ilustrado por uma porção de potes, e jarros, e fornos, e toda a parafernália necessária para se fazer e guardar remédios ou conservas. Além dos ingredientes, é claro.


Um amigo se referiu a este conjunto singular como um grimório, um livro de magia: mas, a rigor, TODO livro não deixa de ser mágico, de certa forma - uma vez que é capaz de despertar faculdades e provocar sensações e ativar pensamentos e emoções em seus leitores.  O que evidentemente não significa que seja "mau", é óbvio! Apenas que toca e impressiona, através de uma via simbológica,  um território oculto - que é a mente do leitor. Há uma certa controvérsia, a respeito disto - da diferença entre um livro "mágico"ou um que deliberadamente se proponha a "executar" isto ou aquilo; eu creio que a distinção é vaga, e entendo essas coisas apenas como BOAS ou MÁS. E, pelo mísero valor que isto tenha, creio firmemente que o pequeno Codex Voynich é definitivamente benigno! 


O interessante é que não apenas a sua linguagem não foi decifrada, mas também as plantas ali representadas com tantos detalhes são desconhecidas, nunca encontradas, inexistentes no mundo real e visível. Como também são desconhecidos os sistemas tubulares e valvulescos, e  as mandalas estreladas não se referem a constelações existentes. Antes de morrer, e por absoluta falta de compradores interessados, Herr Voynich doou o Codex que leva seu nome à biblioteca de Yale, que  fez o estupendo favor de digitalizar e devidamente disponibilizar pela Internet, para os curiosos como eu, folha por folha da pequenina maravilha.


Venho então, querido diário, me ocupando em reproduzir muitos desses desenhos, com grande satisfação e talvez algum proveito. As cores são poucas, penso eu que os pigmentos são apenas TRÊS: um azul, um vermelho e um amarelo ocre. Com a mistura dessas três cores básicas  o autor conseguiu uma razoável variação de verdes, chegando a um lindo turquesa,  e alguma variação entre o marrom e o ocre, penso eu que usando também o pigmento da tinta com a qual escreveu o texto, e que é escura. E deixou o vermelho quase sempre puro, sem misturá-lo muito. O resultado, aos meus olhos, é encantador.


Esqueci de dizer que as indefectíveis "análises de carbono14" colocam o manuscrito entre os séculos XV e XVI - mas mais uma vez algo me diz que ele foi escrito duzentos anos ANTES disto, e talvez ainda antes. Não me pergunte por que, diário amigo: eu sou notoriamente refratária, assim como o Codex Voynich, aos deciframentos deste mundo... Talvez seja exatamente ESTE o motivo pelo qual eu o acho tão extraordinariamente próximo. Foi a palavra que me ocorreu, caro diário: tão próximo quanto os moleskines que se empilham nas minhas gavetas, cheios de desenhos e textos que  serão, quem sabe, encontrados num futuro distante, reliqua de um passado perdido.E que serão, eu temo,  igualmente  indecifráveis. 








quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Os macacos e o Brave New World

Diário,


Minha irmã Giselle diz, e eu concordo, que o Brasil é um país tão estúpido, e criou mecanismos tão grotescos em torno da sua própria estupidez, que NADA - inclusive  planos malévolos - pode realmente funcionar por aqui! Quando eu falo das abomináveis intenções do Foro de São Paulo ou dos paradigmas malignos da Nova Ordem Mundial, ela faz um olhar filosófico e diz -  "não se preocupe; não vão conseguir fazer nada disso aqui". 


Como naquele texto cômico a respeito das desventuras dos dois terroristas da Al Qaeda encarregados de bombardear a estátua do Cristo Redentor, que acabaram num hospital do SUS com um ataque severo de diarréia provocado por uma empadinha contaminada, depois de ter sido surrados por traficantes que os confundiram com membros de uma facção rival, a nossa VISCERAL incompetência e grotesca imbecilidade impedem, segundo ela, que qualquer tipo de ação organizada -  boa ou má - possa dar certo no Brasil, sil, sil.


Nosso destino não seria, portanto,  o "Brave New World", devido à nossa absoluta incapacidade de adotar os métodos necessários para a implantação do pavoroso paradigma:  seria, antes, uma espécie de Haiti piorado, no qual analfabetos retardados se auto-destroem numa sequência macabra de manobras de absurda ilogicidade, e onde a preguiça e a burrice competem entre si como "causa mais provável" da esculhambação generalizada - sem que seja possível, evidentemente, se chegar a qualquer conclusão a respeito. NUNCA teríamos a disciplina e a ordem mental indispensáveis para que fosse criada aqui a horrenda distopia huxleyana: e a nossa versão dela consistiria em um bando de imbecis sem moral tentando "administrar", via milhares de macacos mal-adestrados, uma paródia de "sistema" caindo aos pedaços.  


Em sendo assim, "frustramos o demo" - e as hostes do maligno só conseguem pífios resultados, diante da nossa brutal incompetência.


Eu quero estender esta análise, caro diário - para dela tirar uma  tese: a humanidade está se tornando burra, maciçamente estúpida, e é inevitavelmente levada a navegar, cada vez mais, entre centenas de arapucas  idiotas e  perigos fundamentados pela palermice. O primeiro sintoma da burrice visceral é a incapacidade de ligar causa e efeito, o que torna nulo o conceito de "consequência".  Não é que dentro desta imbecilidade "dois mais dois"  não sejam "quatro"; é muito pior que isso: é que  a IDÉIA de "dois mais dois" simplesmente deixa de existir!  Não só "não dá quatro" como não dá rigorosamente porra nenhuma - nem três, nem cinco, e nem quantidade alguma!


Eu sinceramente creio - e é este o tema desta carta de hoje a você - que Antonio Gramsci exatamente não previu  esta consequência, quando montou a sua estratégia de domínio das massas pela via  da imoralização, ou DES-moralização das referidas massas. Antonio Gramsci não sacou que, ao se anular a consciência, fecha-se, concomitantemente, o acesso a um atributo que fundamenta a cognição humana! E sem o qual esta cognição, esta "intelectuação", DEIXA DE OCORRER! A imoralização das massas está sendo conseguida, claramente conseguida, como Gramsci queria - mas trouxe, atrelada a ela,  como "consequência da causa", a completa imbecilização destas mesmas massas! 


É extraordinariamente interessante perceber que o "Brave New World", neste caso,  é uma impossibilidade metafísica - pela óbvia razão de que um bando de macacos não pode ser treinado para manter um sistema, mesmo que cada macaco seja "responsável" apenas por um pedacinho minúsculo deste sistema!  O domínio conseguido pela via da imoralização, da destruição da consciência humana, é uma falácia: o ser que resulta do processo de  imoralização não tem  capacidade cognitiva suficiente para que exista este domínio, muito menos  para que ele "sirva" a algum fim - em outras palavras, a "humanidade"  dominada por esta via simplesmente não será humana, não será "humanidade"! E, sem humanos para mantê-lo, entregue a meros primatas, o "sistema" - qualquer que seja ele - acabará por implodir, por se auto-destruir!


Que estupendamente perfeita CHAVE, que fabuloso Mistério a fechar o círculo de forma absoluta! 


Onde entra o Brasil nesta página ainda tão mal-alinhavada? Bem, entra como uma espécie de "demonstração visível" de duas coisas: da correção da análise da minha irmã e da  minha consequente tese, que eu julgo bastante precisa, e que pretendo posteriormente organizar de maneira mais adequada e menos precária - como você, querido diário, sabe que considero meu dever, minha alegria e meu destino.


Sua sempre sintética, no puro sentido do termo,


Rainha